João Vasques Rosa

A campanha da Argentina no Catar em 2022 é musical. A trajetória dos feitos em campo se confunde com canções perpetuadas no imaginário popular:

“Primero hay que saber sufrir”, imortalizaria Roberto Goyeneche. O verso de Homero Expósito emplacado há 80 anos poderia, facilmente, ter sido o principal grito da torcida Argentina em Doha. Antes de amar, a Argentina sofreu. Em etapas. De tristeza, por uma derrota vexatória na primeira rodada; de inveja, pela enganadora atuação brasileira contra a Sérvia; de raiva, como todos os lúcidos, por conta do VAR. No mata-mata, os hermanos explicaram o porquê de termos como “gol agônico” serem comuns por lá: nas oitavas e nas quartas, recomendou-se a checagem do pulso de cada um dos 45 milhões de habitantes do país da prata. Jogos ganhos transformados em bacias-das-almas comprovaram que não se celebra tão fácil. Tem que sofrer! Na semi, contudo, a história ganhou outro tom. Charly García os lembrou que “la alegría no es solo brasilera”. 3 a 0 na Croácia para vingar os “brazucas”.

Aí está o outro ponto musical: a seleção boluda foi carregada pela potência lírica de seu povo e a habilidade narrativa que os cânticos entoados por sua massa fanática propõem. Se em 14, em casa, tivemos que aguentar o “Brasil, decime qué se siente”, desta vez, acompanhamos uma composição ainda mais provocadora e apoteótica. “Muchachos, ahora nos volvimos a ilusionar”, como uma súplica final pela taça, tem por simples tradução livre o seguinte: “é agora, Messi. a zica acabou. E o Maradona tá te apoiando lá de cima.” 

Provocação. Súplica. Apoteose e… vingança: “En Argentina nací, tierra de Diego y Lionel / de los pibes de Malvinas que jamás olvidaré”, versos que vão ao encontro de um cântico entoado pelos próprios jogadores no vestiário: “Ingleses putos de Malvinas no me olvido”, versão de uma canção do El Pepo, mestre da cumbia. Não comento o sofrimento da final. Era óbvio. Nada fora do roteiro.

De quatro em quatro anos 
 países colocam em aposta a persistência de suas essências. 11 (e alguns milhões mais) condensam as tradições, crenças e frustrações de seu povo em nome da glória. Em nome dela, no caso Argentino, parece necessário primeiramente sofrer.

“... después amar”

Argentina Música

Sofrer primeiro 

Artur Magalhães

Você já deve ter visto algumas imagens da reação da torcida argentina. Estimativas apontam que mais de 1 milhão de argentinos tomaram as ruas de Buenos Aires após o apito final no último domingo e o tão sonhado tricampeonato. E o resultado foi uma das mais bonitas comemorações de um título mundial de toda a história.

Mas não só Buenos Aires ficou assim. O mundo inteiro viveu intensamente a final da Copa do Mundo de 2022, que foi para muitos a mais épica já vista. E em cada canto do globo - uns mais, outro menos - teve emoção pela vitória argentina. Vamos falar de alguns deles por aqui.

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overflow:hidden; padding:8px 0 7px; text-align:center; text-overflow:ellipsis; white-space:nowrap;"><a href="https://www.instagram.com/p/CmW86tqJfid/?utm_source=ig_embed&amp;utm_campaign=loading" style=" color:#c9c8cd; font-family:Arial,sans-serif; font-size:14px; font-style:normal; font-weight:normal; line-height:17px; text-decoration:none;" target="_blank">Uma publicação compartilhada por PELEJA (@peleja)</a></p></div></blockquote> <script async src="//www.instagram.com/embed.js"></script>

Por mais que exista de fato uma grande rivalidade entre brasileiros e argentinos, isso não foi um impeditivo para a festa albiceleste que aconteceu por aqui. No estado do Rio de Janeiro, especificamente, a noite de domingo, 18, foi de êxtase. A praia de Copacabana foi tomada por argentinos e simpatizantes que deram a volta olímpica.

Búzios, uma das mais turísticas cidades do Brasil, recebeu o apelido de ‘Búzios Aires’ pela reportagem do UOL. Isto porque, segundo levantamento do portal G1 feito em 2018, a cidade que tem hoje pouco mais de 40 mil habitantes, na época, contava com cerca de 6 mil argentinos. Bom, esses números certamente cresceram. Durante a final, um telão na região central da cidade levou mais de 3 mil deles para tomar as ruas e comemorar o título.

<blockquote class="twitter-tweet"><p lang="pt" dir="ltr">A festa em Búzios tá ON! <br><br>vídeo <a href="https://twitter.com/caioblois?ref_src=twsrc%5Etfw">@caioblois</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/UOLNaCopa2022?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#UOLNaCopa2022</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/copadomundo?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#copadomundo</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/argentina?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#argentina</a> <a href="https://t.co/bojSDM0Ryj">pic.twitter.com/bojSDM0Ryj</a></p>&mdash; UOL Esporte (@UOLEsporte) <a href="https://twitter.com/UOLEsporte/status/1604542310045425665?ref_src=twsrc%5Etfw">December 18, 2022</a></blockquote> <script async src="https://platform.twitter.com/widgets.js" charset="utf-8"></script>

Podemos presumir que um dos motivos que fazem essa paixão pela Seleção Argentina superar as fronteiras sul americanas são as estrelas e grandes ídolos que vestem essa camisa. Em Nápoles, por exemplo, terra onde Diego Maradona é Deus, a festa foi um espetáculo. Milhares de torcedores, entre argentinos e napolitanos, se reuniram após o título para celebrar e adorar sua maior divindade. As bandeiras argentinas e as imagens de Diego espalhadas pela cidade nunca tiveram tanto brilho.

<blockquote class="instagram-media" data-instgrm-permalink="https://www.instagram.com/p/CmUY7TJLc5J/?utm_source=ig_embed&amp;utm_campaign=loading" data-instgrm-version="14" style=" background:#FFF; border:0; border-radius:3px; box-shadow:0 0 1px 0 rgba(0,0,0,0.5),0 1px 10px 0 rgba(0,0,0,0.15); margin: 1px; max-width:540px; min-width:326px; padding:0; width:99.375%; width:-webkit-calc(100% - 2px); width:calc(100% - 2px);"><div style="padding:16px;"> <a href="https://www.instagram.com/p/CmUY7TJLc5J/?utm_source=ig_embed&amp;utm_campaign=loading" style=" background:#FFFFFF; line-height:0; padding:0 0; text-align:center; text-decoration:none; width:100%;" target="_blank"> <div style=" display: flex; flex-direction: row; align-items: center;"> <div style="background-color: #F4F4F4; border-radius: 50%; flex-grow: 0; height: 40px; margin-right: 14px; width: 40px;"></div> <div style="display: flex; flex-direction: column; flex-grow: 1; justify-content: center;"> <div style=" background-color: #F4F4F4; 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overflow:hidden; padding:8px 0 7px; text-align:center; text-overflow:ellipsis; white-space:nowrap;"><a href="https://www.instagram.com/p/CmUY7TJLc5J/?utm_source=ig_embed&amp;utm_campaign=loading" style=" color:#c9c8cd; font-family:Arial,sans-serif; font-size:14px; font-style:normal; font-weight:normal; line-height:17px; text-decoration:none;" target="_blank">Uma publicação compartilhada por nss sports (@nsssports)</a></p></div></blockquote> <script async src="//www.instagram.com/embed.js"></script>

Falando em ídolos e divindades, o atual camisa 10 da seleção também é muito maior que um símbolo pátrio. Lionel Messi é global e na Catalunha especificamente o título veio como uma libertação. O jornal Sport, o principal de Barcelona, estampou que finalmente ‘o sonho de Messi virou realidade’ e o povo catalão sentiu-se orgulhoso como se fosse a conquista de um filho seu. 

<blockquote class="twitter-tweet"><p lang="ca" dir="ltr">En Barcelona!! 🇦🇷🇦🇷🇦🇷🇦🇷🇦🇷 <a href="https://t.co/pEeE9celjG">pic.twitter.com/pEeE9celjG</a></p>&mdash; David Lazzarin (@Lazzadave) <a href="https://twitter.com/Lazzadave/status/1602803886313668611?ref_src=twsrc%5Etfw">December 13, 2022</a></blockquote> <script async src="https://platform.twitter.com/widgets.js" charset="utf-8"></script>

América do Sul, Europa… não parou por aí. Quem tá acompanhando a Copa desde o começo tá percebendo os peculiares torcedores asiáticos que acompanham e torcem como compatriotas pelas principais seleções do mundo. Lembra dos indianos que lotaram o Catar com a camisa da Seleção Brasileira? Bom, em Bangladesh, no sudeste da Ásia, a festa foi imensa. E esse apoio do país vem desde o início da competição. E foi tão grande que o próprio técnico argentino Lionel Scaloni resolveu agradecer pelo carinho ainda na fase de grupos.

### "A camisa da seleção transmite há muitos anos uma loucura por suas cores e uma paixão argentina. Antes com Diego (Maradona) e agora com Leo (Messi). É um orgulho que um país como Bangladesh torça por nós. Obrigado às pessoas de Bangladesh." - Lionel Scaloni, técnico da Argentina.

<blockquote class="twitter-tweet"><p lang="en" dir="ltr">Football craze of Bangladesh. <br>what a match. <br>congrass Argentina 🖤. <a href="https://twitter.com/hashtag/Diu?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#Diu</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/Argentina?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#Argentina</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/FIFAWorldCup?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#FIFAWorldCup</a> <a href="https://t.co/greTBlH15N">pic.twitter.com/greTBlH15N</a></p>&mdash; Md Ashik Rahman Rabbi (@mdashikrahmanra) <a href="https://twitter.com/mdashikrahmanra/status/1604539804188016640?ref_src=twsrc%5Etfw">December 18, 2022</a></blockquote> <script async src="https://platform.twitter.com/widgets.js" charset="utf-8"></script>

O título mundial provou mais uma vez o tamanho do futebol. Dessa que é a mais clara definição de paixão que se tem conhecimento. Um sentimento que une povos tão diferentes para celebrar uma conquista tão distante. É algo que só uma Copa do Mundo consegue provocar nessa proporção. 

O PELEJA vai continuar trazer tudo que rola de melhor e o pior entre as torcidas – até porque, daqui quatro anos, tem mais.

Capa festa argentina

Gente em cima de postes, carros fúnebres para França e comoção mundial por Messi.  

A Argentina ficou pequena para o título

É indiscutível, um dos grandes destaques dessa Copa é a festa que os argentinos estão fazendo nos jogos da sua seleção. Mas por que eles destoam tanto dos outros torcedores?

Bom, primeiro, os argentinos responsáveis por essa festa não são argentinos quaisquer. Eles cantam e atuam criando um ambiente clássico das chamadas barras bravas - um modelo de associação equivalente às torcidas organizadas do Brasil, mas com suas muitas diferenças. E esse clima só é possível porque o grupo é formado por torcedores e componentes exatamente de barras dos mais variados clubes de Buenos Aires e arredores. Além das centenas de bandeiras com os rostos de Messi e Maradona, foi possível identificar no último jogo, por exemplo, instrumentos e faixas com os escudos do Boca, do Racing, do Independiente, do Argentinos Juniors e de outros clubes. Segundo reportagem do jornal TyC Sports, há mais de 90 barras bravas presentes no Catar. 

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  <img src="https://conteudo.imguol.com.br/c/esporte/4a/2022/11/30/torcedores-da-argentina-antes-da-partida-entre-polonia-e-argentina-pela-copa-do-mundo-do-qatar-1669839447230_v2_4x3.jpg" alt="">
  <figcaption>Barras Bravas de vários clubes já no jogo contra a Polônia.</figcaption>
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Histórias de torcedores vendendo o carro, a casa, largando o emprego, economizando por 4 anos só pra conseguir ver a sua seleção - e a última Copa de Lionel Messi - ganharam destaque na internet. Afinal, essa é a Copa mais cara da história; principalmente para nós latinoamericanos. Segundo estimativas, o brasileiro está gastando até R$50 mil para acompanhar o Mundial. Para os argentinos, deve ser ainda mais caro. 

E aí que entram as diferentes hipóteses de como esses torcedores conseguiram o acesso. Nas redes sociais, vídeos de integrantes importantes dessas torcidas começaram a pipocar e criou-se a especulação de que foram ao país árabe bancados pela AFA. A Federação Argentina recebeu cerca de 3 mil ingressos para repassar aos clubes e, segundo essa narrativa, os dirigentes os repassaram mais uma vez aos torcedores. Existem denúncias, ainda, de pessoas que estão banidas dos estádios do próprio país frequentando os estádios do Catar.

Segundo o jornal argentino ‘La Nación’, o Ministério da Segurança da Argentina repassou às autoridades do Catar uma lista com mais de 7.000 torcedores, membros de barras, que estariam ‘proibidos’ de receber a ‘Hayya ID’ - um tipo de identidade usada por quem está no país para acompanhar o Mundial. Essa foi uma jogada estratégica de Aníbal Fernández, o Ministro de Segurança argentino, com o intuito de ganhar mais apreço popular. A ideia de ‘Uma Copa sem Barras’ era perfeita para sua campanha, uma vez que essas são constantemente associadas pelo senso comum à violência e ao crime organizado.

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  <img src="https://fotos.perfil.com/2021/10/08/trim/1280/720/anibal-fernandez-1242416.jpg" alt="">
  <figcaption>Ministro da Segurança, Aníbal Fernández.</figcaption>
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A ideia não foi pra frente porque as autoridades não conseguiram justificativa legal para simplesmente barrar de viajar para outro país cidadãos sem antecedentes criminais. Ainda segundo o ‘La Nación’, os integrantes das barras têm viajado separados e se reúnem apenas em dias de jogos. A maioria está hospedada em Barwa, um bairro da periferia de Doha, onde argentinos com baixo orçamento passam a Copa do Mundo.

Vale destacar que esse clima pulsante não foi realidade em todos os jogos da chamada ‘Albiceleste’. Na estreia contra a Arábia Saudita, a reclamação foi grande pela falta de apoio vindo da arquibancada. Muito se falava sobre o público ser majoritariamente composto  pelos famosos ‘influencers’, que se preocupavam, é claro, mais em gravar conteúdo do que apoiar a seleção. Bom, depois dessa péssima repercussão, teria começado a operação de mudar a alma da arquibancada argentina por parte das próprias barras. E vem dando certo.

Coincidentemente ou não, essa partida contra a Arábia foi a única derrota da Argentina nessa Copa do Mundo. De lá pra cá, a história vem sendo outra. 


Barras no Catar

Ao contrário do que muita gente pensa, o governo argentino nem queria que eles fossem.

Como as 'barras bravas' no Catar mudaram as arquibancadas nos jogos da Argentina

Pedro Brienza

Mais de 30 graus na cabeça, uma eliminação melancólica e um cara jogando água na galera com uma mangueira. Esse era o clima na maior Fan Fest da cidade de São Paulo. Uma festa que virou um enterro com pessoas bêbadas e música sertaneja. 

Você com certeza já viu essa cena no intervalo do jogo da Seleção: o Galvão começa a 'chamar' as câmeras da Globo nas principais capitais do País e aparece uma galera, que tá só esperando aparecer no telão, pular e comemorar como se fosse um gol. Fica sempre o destaque para o cara do surdo no Olodum de Salvador que passa a entrada inteira com o instrumento para o alto. 

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  <img src="https://atarde.com.br/img/Artigo-Destaque/1210000/Artigo-Destaque_01213114_00.jpg?xid=5637507" alt="olodum">
  <figcaption>Show do Olodum na Fan Fest em Salvador. Foto: Olga Leiria/Ag. A Tarde.</figcaption>
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Entre tantos lugares para se reunir para assistir um jogo importante da seleção, ir a um evento lotado desse nunca foi uma das minhas prioridades e eu sempre pensei por qual motivo as pessoas topavam isso. E foi o que eu resolvi descobrir logo em um jogo de quartas de final da Copa do Mundo. 

Para começo de conversa eu estava super confiante. Não esperava que teria que ver a eliminação longe dos meus amigos e família. Mas antes disso acontecer eu queria algumas respostas sobre esse evento.

## De graça para quem tem dinheiro

Apesar de rolar no Vale do Anhangabaú, a FIFA Fan Fest é um evento praticamente privado. Ele é fortemente patrocinado pela mesma marca de cerveja que patrocina tudo que rola no Brasil durante a Copa e que banca, além do palco e do telão, toda uma estrutura de festival, como banheiros químicos, bares e parte da segurança  –  porque assim como qualquer aglomeração no Estado, o local tinha forte presença da Polícia Militar. 

![PM FAN FEST 2](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/4uxlPZDhI9wLkHYYzUp7YQ/a0e77a5af112bafaf72fdcb9e789ee0f/PM_FANFEST.png)

O primeiro passo para entrar lá é ter acesso a internet. Porque mesmo com o ingresso sendo gratuito ele precisa  ser resgatado por um cadastro em um aplicativo de tickets online, que gera um QR Code, que precisa ser apresentado em uma das etapas da revista. 

A localização, pensando em mobilidade, é muito boa, na cara da saída do metrô São Bento. Mas a região é uma das que mais sofrem com a onda de crimes no Centro da capital. Um evento gratuito que aconteceu ainda esse ano, no mesmo lugar, a Virada Cultural, ficou marcada por [arrastões e ações violentas de policiais.](https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/05/29/virada-cultural-arrastoes-roubos-e-furtos-de-celulares-agressoes-marcam-madrugada-com-show-interrompido.ghtml)

Mas a FIFA Fan Fest tem uma cara bem diferente do evento da prefeitura. A própria revista para quem chega no evento é feita em três etapas: com detector de metal, com as mãos e checando bolsas e mochilas e, por fim, com a apresentação do QR Code que identifica os dados de quem entra.

![revista fna fest 2](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/5eICAMQZWspZvaCdFf9UMa/6143c89ff8794e1539dfdb1bb9f8ab7c/revista_fan_fest.png)

## Muita mídia, pouca torcida

Diferente do que aparece na TV, aquela galera amontoada, gritando e torcendo o jogo todo fica só para quem está colado na grade. Cinco metros para trás os grupos são muito mais contidos. Comentam o jogo entre si e só reagem à partida conforme os lances acontecem, muito parecido com o que rola no resto das salas do Brasil. Um dos detalhes mais presentes na transmissão “patrocinada” são os cantos do Movimento Verde Amarelo que são colocados pelo DJ do palco. Além de bancar todo o espaço, a marca de cerveja também é parceira da torcida organizada da Seleção e tenta puxar a galera que, assim como qualquer brasileiro que não faz parte do tal movimento, ignora o áudio e continua em silêncio, assistindo ao jogo. 

Mas a cada intervalo, em um dos dias mais quentes do ano na capital paulista, cada grupo se move aos montes para os bares montados por todo o Vale. E conforme o jogo vai passando, o público que estava confiante, fica cada vez mais bêbado, impaciente e molhado, já que um dos funcionários da produção do evento resolveu molhar as pessoas com uma mangueira, num esquema bem bloco de carnaval.    

![Mangueira](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/7fCKhtlhzOcJ0qYAbZIjPJ/66ec951f5223f1e7bf24e473b6ee58b4/mangueira.png)

## Fim de festa

Com a eliminação decretada, a cena era a que todo mundo esperava. Pessoas rezando, chorando e bebendo. O luto pela eliminação precoce foi instaurado por 30 segundos até uma mestre de cerimônia aparecer no palco com um microfone e anunciar a atração sertaneja do pós-jogo. Quem foi até lá para assistir à partida e estava minimamente conectado com o futebol virou as costas e seguiu de volta para a estação São Bento.

O clima de organização e paz já era bem diferente da entrada. Os bares do entorno com álcool em um preço mais acessível começaram a lotar cada vez mais, a segurança contratada já não estava mais tão concentrada no controle do público e um torcedor, completamente bêbado, resolveu desafiar um grupo de policiais, que com muito trabalho e pouca paciência, revidou com truculência. 

Como eu estava próximo e filmei a cena, fui abordado, ameaçado, revistado e questionado. Os policiais que recolheram meu documento por alguns minutos reforçaram que se o vídeo fosse publicado fora de contexto, eu teria que 'responder' por isso. Já a minha justificativa foi que precisava de provas para descrever os fatos. Depois do enquadro, principalmente por não estar fazendo nada demais, fui liberado com a cena que resumiu o dia do jogo na FIFA Fan Fest do Anhangabaú: um torcedor brasileiro irritante e bêbado no chão, depois de jurar que dessa vez ia ser diferente. 


capa anhagabau

Quem foi até o Centro de São Paulo passou calor e muita raiva.

A agonia brasileira no Vale do Anhangabaú 

Sara de Oliveira

## 3,5 toneladas de carne

Essa foi a prioridade na bagagem da delegação argentina na viagem até o Catar. Como uma das favoritas a ganhar o torneio, eles estão contando que a estadia vai durar até o fim da Copa, o que explica essa quantidade absurda de comida e também de churrasqueiras que estão espalhadas pelo hotel durante a Copa. 

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  <img src="https://cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/infobae/ALWUJ4BXPNHVPBC4BMDASHW5YY.jpg" alt="">
  <figcaption>Churrascada antes da estreia contra a Arábia Saudita. Reprodução: Instagram</figcaption>
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Mas o churrasco diário na concentração não chamou tanto a atenção da imprensa argentina quanto outro elemento tradicional na bagagem que envolve erva, Leo Messi, Uruguai e Brasil. 

Tudo começou antes mesmo do início da Copa, após uma foto publicada por Nicolás González, atacante argentino, viralizar. Nela dá para ver uma mala gigante para transportar alimentos e estava cheia de ervas-mate. O problema é que a marca que eles estavam levando é uruguaia e a erva é cultivada no Vale do Taquari, cidade do Rio Grande do Sul. Ou seja, o chimarrão preferido de muitos jogadores argentinos, como Lionel Messi, tem um gostinho de Brasil e Uruguai, principais rivais da seleção na América do Sul. Ao final, González nem mesmo entrou para a lista final de convocados porque teve uma lesão muscular.

![erva argentina](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/2GLq0C3PzgsJe7E2sI7X6G/1f06514a0613fea20a437e760148ed6d/Sem_T__tulo-2.png)

Mesmo assim, alguns argentinos ficaram putos com a seleção albiceleste por levarem vários pacotes desta erva-mate, enquanto na Argentina existem outras para fazer o chimarrão, bebida que é um legado dos índios Guaranis. Um dos caras que ficou mais irritado foi o ex-deputado Luis Mario Pastori, que é contra a importação da marca no país. Mas fica difícil impedir a venda quando a sua maior estrela do futebol é o fã número um da marca.

<blockquote class="twitter-tweet"><p lang="es" dir="ltr">Insólito e inexplicable. Existen decenas de marcas de muy buena yerba mate en la Argentina producidas en Misiones y en Corrientes. Sin embargo, la Selección lleva a Qatar una marca uruguaya. ¿Hay alguna explicación oficial? Es casi una provocación. <a href="https://t.co/mxlQXUXtBt">pic.twitter.com/mxlQXUXtBt</a></p>&mdash; Luis Mario Pastori (@luispastori) <a href="https://twitter.com/luispastori/status/1589695610973982721?ref_src=twsrc%5Etfw">November 7, 2022</a></blockquote> <script async src="https://platform.twitter.com/widgets.js" charset="utf-8"></script>

A Argentina é a maior produtora da erva no mundo, 700 mil toneladas por ano e o incrível é que praticamente tudo é para o consumo interno, ou seja, dos próprios hermanos. É estimado que os argentinos consomem 5,5 kg por ano, mas são superados pelos uruguaios com 6,8 kg.

Por causa da polêmica, a assessoria da seleção publicou uma foto com outras marcas de mate para mostrar que também tinha levado as argentinas.

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  <img src="https://tn.com.ar/resizer/9hFCuCauShUQkvZ7KnWf0pIkNwo=/767x0/smart/filters:format(webp)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/artear/QHVQEFGZINC37GLVHBKJ5Q6G34.jpg" alt="">
  <figcaption>Messi tomando chimarrão durante folga. Foto: AFP</figcaption>
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## E o Uruguai?

Ao contrário dos argentinos, não houve nenhuma polêmica envolvendo as bagagens da seleção. Os uruguaios ficaram mesmo decepcionados com a péssima Copa que fizeram. Perderam para Portugal, empataram com a Coreia e mesmo ganhando de Gana ficaram de fora das oitavas. Provavelmente eles não comeram 900 quilos de carne que trouxeram durante estes dias no Catar. O jeito vai ser fazer um churras de despedida para Suaréz, Cavani e Godin. Fim de uma era.

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  <img src="https://a2.espncdn.com/combiner/i?img=%2Fphoto%2F2022%2F1112%2Fr1089783_1296x729_16%2D9.jpg&w=1140&cquality=40&format=jpg" alt="Fim de uma era">
  <figcaption>Suárez, Godín e Cavani. Foto: CARL DE SOUZA/AFP</figcaption>
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## O Brasil não ficou de fora

Os comandados por Tite, por sua vez, levaram 30 quilos de farinha de mandioca. O alimento faz parte da base da comida brasileira que para muitos é “arroz, feijão e ovo”, como disse Richarlison em entrevista para Isa Pagliari. A jornalista até chegou a perguntar se poderia colocar farinha e o camisa 9 da seleção concordou. Logo, não poderia faltar na regrada dieta dos jogadores durante o mundial. Mas, além de ser figurinha carimbada no prato de muitos brasileiros, a farinha de mandioca também tem muitos benefícios para a saúde como auxílio do bom funcionamento do intestino além de ser rica em potássio – o que ajuda na prevenção de câimbras. Indispensável, diga-se de passagem.

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  <img src="https://s2.glbimg.com/Ix4rS5kvDyFaiLr4sdyt92kGcXg=/0x0:1280x720/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/n/V/YR2WGHQBi1V7EESq1MdQ/whatsapp-image-2022-03-22-at-08.43.34.jpeg" alt="">
  <figcaption>Carga brasileira de farinha para o Catar. Foto: Reprodução</figcaption>
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## It’s coming home?

Já na bagagem da Inglaterra, que também deve estar lotada de erva para fazer chá, a que chamou mais atenção está vazia. Isso porque o volante do West Ham e titular da seleção, Declan Rice, resolveu levar entre as suas coisas uma pequena mala sem nada dentro que, segundo ele, é para ter um lugar para colocar a taça de campeão na volta para casa. 

![Rice Mochila](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/Bjwb9pK5ihdxLYlbBMFFK/3cb958808dea74383fe4b8f354e8cb69/Sem_T__tulo-3.png)

Seja confiança ou marra, não é tão difícil imaginar como seria a repercussão da imprensa birtânica se algo assim fosse feito pelos "desrespeitosos" brasileiros. 

Messi Erva

Se você soubesse o que a Inglaterra fez, ficaria enojado. 

De erva até mala vazia: as polêmicas bagagens das seleções que ainda estão no Catar

A FIFA vem trabalhando há muito tempo para restringir ao máximo qualquer manifestação social ou política em suas competições. Nessa Copa do Mundo em especial, a federação se esforçou para impedir que as frequentes manifestações pelos direitos das mulheres, da comunidade LGBTQIA + e pelas leis trabalhistas ficassem apenas nas redes sociais e não fizessem parte das arquibancadas do Catar. E ela realmente tem conseguido alcançar esse objetivo, salvo algumas poucas exceções. O que a FIFA não se atentou foi que, nesse sentido, levar pela primeira vez na história a Copa do Mundo para ser disputada no Oriente Médio seria um tiro no próprio pé da federação. Isso porque o torneio serviu como vitrine para uma causa que une árabes e ativistas do mundo todo: a causa palestina.

Na partida contra a Austrália, ainda na fase de grupos, uma bandeira enorme com a mensagem ‘Free Palestine’ foi exibida pelos tunisianos. Além disso, cantos clássicos em favor da causa e faixas de torcedores individuais puderam ser percebidas nas arquibancadas. E as manifestações não estão só na torcida da Tunísia. A luta por uma Palestina livre une nessa Copa também os catari, os marroquinos, os sauditas, além de muitos cidadãos dos países vizinhos que foram viver o Mundial sem sua seleção estar no torneio, como é o caso de egípcios, argelinos, sírios e jordanianos. As cores palestinas tomaram conta das arquibancadas e colocaram em evidência essa questão global.

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  <img src="https://s2.glbimg.com/LDiq562b3FBYe0mAJc0bMEviUFg=/0x0:6000x4000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2022/9/I/AcOzkVQyy9YUXPBhW2Bw/2022-11-26t111346z-971718370-up1eibq0v6v6o-rtrmadp-3-soccer-worldcup-tun-aus-report.jpg" alt="">
  <figcaption></figcaption>
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Além das bandeiras, faixas, cachecóis e dos cantos vindos das arquibancadas, está rolando um certo boicote dos árabes e de outros torcedores aos veículos de imprensa israelenses que estão cobrindo o mundial. Rodam pela internet imagens de transmissões cortadas e finalizadas assim que os entrevistados descobrem a origem do canal. Em outras situações, os participantes ainda gritam pela ‘Palestina livre’, se manifestando em plena mídia de Israel.

<blockquote class="twitter-tweet"><p lang="en" dir="ltr">A thread of World Cup fans refusing to engage with Isr@eli reporters:<br><br>1. Reporter: “BUT YOU SIGN PISS, YOU SIGN PISS, YOU SIGN PISS AGREEMENT” <a href="https://t.co/QGQWnE1cDh">pic.twitter.com/QGQWnE1cDh</a></p>&mdash; Jennine (@jennineak) <a href="https://twitter.com/jennineak/status/1596630526835970048?ref_src=twsrc%5Etfw">November 26, 2022</a></blockquote> <script async src="https://platform.twitter.com/widgets.js" charset="utf-8"></script>

Essa semana, a Seleção Brasileira recebeu em sua concentração um torcedor jordaniano-palestino que ficou famoso após fazer uma festa carregando nos ombros o neto de Tite na vitória do Brasil sobre a Sérvia. O técnico da Seleção, emocionado, convidou o torcedor para assistir ao treino brasileiro e o presenteou com uma camisa autografada. O vídeo do reencontro mostrou o convidado com uma bandeira de sua nação, a Palestina, pendurada nas costas como se fosse uma capa. E está lá, mais uma vez a causa em foco, no perfil oficial da maior seleção do mundo e para quase 15 milhões de seguidores. 

<blockquote class="instagram-media" data-instgrm-captioned data-instgrm-permalink="https://www.instagram.com/reel/ClliAbxjimK/?utm_source=ig_embed&amp;utm_campaign=loading" data-instgrm-version="14" style=" background:#FFF; border:0; border-radius:3px; box-shadow:0 0 1px 0 rgba(0,0,0,0.5),0 1px 10px 0 rgba(0,0,0,0.15); margin: 1px; max-width:540px; min-width:326px; padding:0; width:99.375%; width:-webkit-calc(100% - 2px); width:calc(100% - 2px);"><div style="padding:16px;"> <a href="https://www.instagram.com/reel/ClliAbxjimK/?utm_source=ig_embed&amp;utm_campaign=loading" style=" background:#FFFFFF; line-height:0; padding:0 0; text-align:center; text-decoration:none; width:100%;" target="_blank"> <div style=" display: flex; flex-direction: row; align-items: center;"> <div style="background-color: #F4F4F4; border-radius: 50%; flex-grow: 0; height: 40px; margin-right: 14px; width: 40px;"></div> <div style="display: flex; flex-direction: column; flex-grow: 1; justify-content: center;"> <div style=" background-color: #F4F4F4; border-radius: 4px; flex-grow: 0; height: 14px; margin-bottom: 6px; width: 100px;"></div> <div style=" background-color: #F4F4F4; border-radius: 4px; flex-grow: 0; height: 14px; width: 60px;"></div></div></div><div style="padding: 19% 0;"></div> <div style="display:block; height:50px; margin:0 auto 12px; width:50px;"><svg width="50px" height="50px" viewBox="0 0 60 60" version="1.1" xmlns="https://www.w3.org/2000/svg" xmlns:xlink="https://www.w3.org/1999/xlink"><g stroke="none" stroke-width="1" fill="none" fill-rule="evenodd"><g transform="translate(-511.000000, -20.000000)" fill="#000000"><g><path d="M556.869,30.41 C554.814,30.41 553.148,32.076 553.148,34.131 C553.148,36.186 554.814,37.852 556.869,37.852 C558.924,37.852 560.59,36.186 560.59,34.131 C560.59,32.076 558.924,30.41 556.869,30.41 M541,60.657 C535.114,60.657 530.342,55.887 530.342,50 C530.342,44.114 535.114,39.342 541,39.342 C546.887,39.342 551.658,44.114 551.658,50 C551.658,55.887 546.887,60.657 541,60.657 M541,33.886 C532.1,33.886 524.886,41.1 524.886,50 C524.886,58.899 532.1,66.113 541,66.113 C549.9,66.113 557.115,58.899 557.115,50 C557.115,41.1 549.9,33.886 541,33.886 M565.378,62.101 C565.244,65.022 564.756,66.606 564.346,67.663 C563.803,69.06 563.154,70.057 562.106,71.106 C561.058,72.155 560.06,72.803 558.662,73.347 C557.607,73.757 556.021,74.244 553.102,74.378 C549.944,74.521 548.997,74.552 541,74.552 C533.003,74.552 532.056,74.521 528.898,74.378 C525.979,74.244 524.393,73.757 523.338,73.347 C521.94,72.803 520.942,72.155 519.894,71.106 C518.846,70.057 518.197,69.06 517.654,67.663 C517.244,66.606 516.755,65.022 516.623,62.101 C516.479,58.943 516.448,57.996 516.448,50 C516.448,42.003 516.479,41.056 516.623,37.899 C516.755,34.978 517.244,33.391 517.654,32.338 C518.197,30.938 518.846,29.942 519.894,28.894 C520.942,27.846 521.94,27.196 523.338,26.654 C524.393,26.244 525.979,25.756 528.898,25.623 C532.057,25.479 533.004,25.448 541,25.448 C548.997,25.448 549.943,25.479 553.102,25.623 C556.021,25.756 557.607,26.244 558.662,26.654 C560.06,27.196 561.058,27.846 562.106,28.894 C563.154,29.942 563.803,30.938 564.346,32.338 C564.756,33.391 565.244,34.978 565.378,37.899 C565.522,41.056 565.552,42.003 565.552,50 C565.552,57.996 565.522,58.943 565.378,62.101 M570.82,37.631 C570.674,34.438 570.167,32.258 569.425,30.349 C568.659,28.377 567.633,26.702 565.965,25.035 C564.297,23.368 562.623,22.342 560.652,21.575 C558.743,20.834 556.562,20.326 553.369,20.18 C550.169,20.033 549.148,20 541,20 C532.853,20 531.831,20.033 528.631,20.18 C525.438,20.326 523.257,20.834 521.349,21.575 C519.376,22.342 517.703,23.368 516.035,25.035 C514.368,26.702 513.342,28.377 512.574,30.349 C511.834,32.258 511.326,34.438 511.181,37.631 C511.035,40.831 511,41.851 511,50 C511,58.147 511.035,59.17 511.181,62.369 C511.326,65.562 511.834,67.743 512.574,69.651 C513.342,71.625 514.368,73.296 516.035,74.965 C517.703,76.634 519.376,77.658 521.349,78.425 C523.257,79.167 525.438,79.673 528.631,79.82 C531.831,79.965 532.853,80.001 541,80.001 C549.148,80.001 550.169,79.965 553.369,79.82 C556.562,79.673 558.743,79.167 560.652,78.425 C562.623,77.658 564.297,76.634 565.965,74.965 C567.633,73.296 568.659,71.625 569.425,69.651 C570.167,67.743 570.674,65.562 570.82,62.369 C570.966,59.17 571,58.147 571,50 C571,41.851 570.966,40.831 570.82,37.631"></path></g></g></g></svg></div><div style="padding-top: 8px;"> <div style=" color:#3897f0; 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overflow:hidden; padding:8px 0 7px; text-align:center; text-overflow:ellipsis; white-space:nowrap;"><a href="https://www.instagram.com/reel/ClliAbxjimK/?utm_source=ig_embed&amp;utm_campaign=loading" style=" color:#c9c8cd; font-family:Arial,sans-serif; font-size:14px; font-style:normal; font-weight:normal; line-height:17px; text-decoration:none;" target="_blank">Uma publicação compartilhada por Seleção Brasileira de Futebol (@cbf_futebol)</a></p></div></blockquote> <script async src="//www.instagram.com/embed.js"></script>

No início de novembro, a FIFA divulgou com todo o orgulho que palestinos e israelenses viajariam ao Catar em voos compartilhados. O que torna essa situação mais especial e mostra o tamanho de uma Copa do Mundo é o fato de que o país sede do torneio não reconhece e não mantém relações diplomáticas com Israel. Mesmo assim, resolveram criar um escritório temporário só para atender os visitantes do país.

O futebol tem uma força colossal. Sempre se misturou e sempre se misturará com os temas que cercam a sociedade em que ele está inserido. Se mistura com política, com religião, com história. E quando o maior evento esportivo do mundo está acontecendo a apenas 2 mil quilômetros de Jerusalém, a Terra Santa, sua força se potencializa e todos os olhos do mundo passam a enxergar a 33ª nação dessa Copa: a Palestina.

Toda semana o PELEJA traz que rola de melhor, e pior, nas arquibancadas. E durante uma Copa do Mundo, geralmente é de lá onde saem as melhores histórias.


Bandeira Palestina 2

O país nunca se classificou para uma Copa do Mundo, mas é um dos mais presentes no mundial de 2022.

Por que essa bandeira está em todo lugar no Catar

A Seleção Brasileira encara nesta sexta-feira, 02, às 16h, horário de Brasília, a seleção de Camarões no Estádio Lusail, no Catar. Repetindo: um jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo às quatro da tarde de uma sexta-feira.

## A primeira coisa que você precisa saber é: não assista na sua casa. 

O Tite já anunciou que vai com o time reserva, já que a situação no grupo é totalmente confortável. Mesmo com uma derrota para Camarões, a Suíça teria que meter uma goleada para cima da Sérvia para se classificar em primeiro lugar. Então, sinceramente, esse jogo não vale nada. 

Para quem ama Copa do Mundo, respira e quer ver futebol o tempo todo, independente do seu motivo, parece um pesadelo pensar em ver um jogo do Brasil em um lugar com um monte de gente que nem entende de futebol e não tá nem aí para o jogo  –  mas essa é a sua chance.

Qualquer jogo do Brasil daqui para frente vai ser decisivo. A partir das eliminatórias é impossível te convencer a não ver os jogos entocado, focado, com o volume da TV estourado e de olho em cada toque na bola. Mas nessa sexta-feira, se o trabalho liberar mais cedo, vive um pouco essa parada. Aproveita que o Mundial só acontece a cada quatro anos e que apesar de ter um monte de coisa errada na edição de 2022, é o único na história a rolar no verão brasileiro  –  coisa da previsão estar apontando máxima de 35ºC em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

E para o jogo que promete ser o mais *relax*, de acordo com o ponto de vista, o Brasil deve ir com a seguinte escalação:

### Ederson; Daniel Alves, Militão, Bremer e Alex Telles; Fabinho, Fred e Rodrygo; Antony, Gabriel Jesus e Martinelli.

Já Camarões, que precisa vencer para passar de fase, deve ir com:

### Epassy, Fai, Castelletto, N'Koulou e Tolo; Hongla, Anguissa e Kunde; Mbeumo (Aboubakar), Choupo-Moting e Ekambi.

A partida vai passar na Live do Casemiro, no Youtube e na Twitch, mas no bar que você vai assistir ou no churrasco que tem mais barulho que narração, provavelmente devem ligar na TV Globo mesmo, 16h, não tem erro. 


Pedro

A oportunidade perfeita para quem nem gosta de futebol aproveitar o único jogo tranquilo desse Mundial.

Como e onde assistir: Brasil x Camarões pela Copa do Mundo

Se você acompanha futebol e outros esportes além da Copa do Mundo e costuma ficar atento a detalhes além do campo, é claro que já reparou nisso. Em campeonatos internacionais é comum ter vários torcedores vestindo roupas e fantasias características de seus respectivos países ou dos países que estão torcendo  - algumas vezes nem são tão características, mas respeitam um estereótipo que é consenso. Tem os famosos  mexicanos com seus sombreros ou os nórdicos, tradicionalmente vestidos de vikings. Nessa mesma pegada, alguns ingleses costumam apoiar seu país fantasiados de  cavaleiros medievais. Roupas brancas e a cruz vermelha de São Jorge, o padroeiro da Inglaterra. Os mais fiéis levam até espadas e escudos.

![Templarios no Catar](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/1QvLh4lN3acqOaHrOm0nBr/c10d6729f54bacc2b49be3b71df54348/221125-qatar-england-knight-mb-1201-de0436.jpg)

Mas, no Catar, esses últimos não estão rolando. Pelo menos não mais. Na estreia da Inglaterra na Copa, o jogo contra o Irã, alguns britânicos ainda conseguiram acessar o Estádio Khalifa com o traje. Mas isso chamou a atenção das autoridades e não se repetiu na segunda rodada. 

A roupa branca e a cruz vermelha representam os cavaleiros templários da Idade Medieval Britânica. Entre os séculos XI e XIII, esses foram os homens enviados nas históricas expedições militares e religiosas da Europa ao Oriente: as famosas Cruzadas, movimentos violentos que buscavam “reconquistar a Terra Santa”, Jerusalém, que estava sob domínio islâmico. O nome “Cruzadas”, inclusive, vem do símbolo de cruz vermelha utilizado por esses cavaleiros.

<blockquote class="twitter-tweet"><p lang="en" dir="ltr">Qatari authorities have started banning England fans from wearing crusader costumes in stadiums.<br><br>The attire, complete with swords and crosses, are offensive due to crusader history of rape, slaughter and occupation of Arab lands.<a href="https://twitter.com/hashtag/Qatar?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#Qatar</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/Eng?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#Eng</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/FIFAWorldCup?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#FIFAWorldCup</a> <a href="https://t.co/BoL6dnZEjz">pic.twitter.com/BoL6dnZEjz</a></p>&mdash; Robert Carter (@Bob_cart124) <a href="https://twitter.com/Bob_cart124/status/1595558511697661959?ref_src=twsrc%5Etfw">November 23, 2022</a></blockquote> <script async src="https://platform.twitter.com/widgets.js" charset="utf-8"></script>

É claro que esse evento glorificado e romantizado pelos britânicos não é visto da mesma forma pelo outro lado. Para os muçulmanos, as cruzadas não passaram de invasões e ataques cruéis que deixaram milhares de mortos e banharam de sangue suas terras por anos. Tais investidas europeias levam até outro nome no Oriente Médio: são as ‘Invasões Francas’.

Vários ingleses foram barrados do lado de fora nos últimos jogos por estarem vestidos como ‘cruzados’. Já haviam avisos prévios de que esse tipo de manifestação seria tratada como ofensiva em um país de maioria muçulmana e que, portanto, estaria proibida.

![Pintura templario](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/1gGXPgYDFAdbbJ7FgJzCKV/1d985f1b3f6b6d97445bab5cc6c8f7c3/Taking_of_Jerusalem_by_the_Crusaders__15th_July_1099.jpg)

Toda semana o PELEJA traz que rola de melhor, e pior, nas arquibancadas. E durante uma Copa do Mundo, geralmente é de lá onde saem as melhores histórias.


Valcic/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

Templários

Não é bandeira LGBTQIA+, não tem relação com álcool ou drogas, não é demonstração de afeto em público; mas é estritamente proibido.

Os cavaleiros “cristãos” no Catar: por que os ingleses estão sendo barrados nas arquibancadas da Copa

Sim, o cara que não fez nenhum gol na Copa de 2018 pode pegar a posição que até pouco tempo não era questionada  –  e isso deixa muita gente puta. A Copa do Mundo já começou e o Brasil estreia hoje,  24 de novembro. Depois da expectativa ao redor dos 26 nomes da Seleção, incluindo a volta de Gabriel Jesus e estreia de Martinelli, ambos da sensação Arsenal, os torcedores agora aguardam ansiosamente para a estreia contra a Sérvia. E junto a isso, esperamos pela primeira escalação oficial e não seria nenhuma surpresa que ele fosse o titular ao invés do Richarlison (segundo um “vazamento” da Globo, o Brasil deve começar com o Pombo, mas o Tite não confirmou). 

Uma das coisas que incomodaram bastante durante a Copa do Mundo de 2018 foi como a Seleção era previsível e não tínhamos uma variação nas escalações. Claro que tínhamos o time base, assim como todas as outras seleções, mas não existia uma variação de posicionamento. Por exemplo, a França mudou o estilo de jogo na final, jogou a competição inteira no 4-2-3-1 e na final era 4-4-3 e sabemos o resultado. Já a Bélgica mudou algumas vezes, jogou no 3-4-2-1, 4-2-3-1 e 4-3-3 e acabou sendo eliminada pela França na semifinal.

De fato, durante a competição não dá para ficar “inventando moda” e colocando volante como zagueiro, zagueiro como lateral e por aí vai. Tem que testar essas escalações durante os amistosos, só que por conta deste calendário infernal da UEFA com a Liga das Nações, fica difícil enfrentar seleções tão fortes como a nossa e ver se estas mudanças mais radicais funcionam ou não. Convivendo com isso, uma maneira de experimentar estilos de jogo, sem se arriscar muito, é convocar jogadores que podem atuar em mais de uma posição. Este tipo de atleta vem ganhando cada vez mais destaque no futebol e pode ser sim fator importante na hora de escolher o time perfeito para a Copa. E aí entra a briga pela titularidade entre Gabriel Jesus e Richarlison, os cotados “9” da Seleção na Copa do Mundo do Catar.

Há seis anos comandando a Seleção, alguns jogadores são figurinhas repetidas nas convocações do Tite**: Neymar com 46, Allison, 43, Marquinhos, 54, e Richarlison com 32. Esse, apesar de não ter ido para a Copa na Rússia, cresceu muito depois do Mundial e parece ter ganhado a confiança de Tite, assim como Vinicius Junior, que começou sem muito brilho, porém a boa fase no Real Madrid rendeu a posição de titular. Só que quem estava no topo da lista era Gabriel Jesus com 54, mas como não foi convocado nos últimos amistosos foi ultrapassado de vez por Marquinhos.

## Este quebra-cabeça está confuso e é dever do Tite completar

Dito isso, os torcedores que querem Richarlison como titular acreditam que ele se encaixa melhor no estilo de jogo da Seleção. Esta ideia vem muito do que foi citado, com as recentes convocações dele, enquanto Gabriel ficou de fora. E como a Seleção joga? No papel, Tite escalou um 4-2-3-1, 4-4-2 e 4-3-3. Olha aí a variação que não tinha antes. Paquetá jogou de ponta e também de meia. Richarlison fez o falso 9 e também foi centroavante. 

No dia 15 de outubro de 2022, o ex-jogador do Everton foi titular no jogo da Premier League, Tottenham x Everto, e sentiu uma lesão muscular na panturrilha.  Então, dois dias depois da lesão, Antonio Conte, técnico do Tottenham, já acalmou o coração dos brasileiros ao dizer, em uma coletiva de imprensa, que a lesão não era grave: 

### “Posso confirmar que ele não está descartado para disputar a Copa do Mundo, de jeito nenhum”. -- Antonio Conte, treinador do Tottenham.

Para muitos, o Gabriel sabe fazer melhor este papel de falso 9, coisa que fez muito no City do Guardiola. Isso porque, talvez, o Gabriel seja melhor tecnicamente do que Richarlison. Porém, o Pombo vem mostrando confiança e muita, mas muita, vontade. Não tem lance perdido para ele. E às vezes é isso que a gente precisa. Imagina só a raiva de ver o seu time perdendo e os caras tocando a bola. Não dá. A gente quer é chuveirinho na área!

## Aquela Copa que eu não marquei nenhum gol

Um fator que influencia na hora da preferência dos torcedores pelo jogador do Tottenham é a Copa de 2018 em que o 9, Gabriel Jesus, não fez nenhum gol. Nenhum. Ele se tornou o camisa 9 com o pior desempenho da história da Seleção na competição. Pior que o tão criticado Fred durante a Copa de 2014 que pelo menos marcou gol. A atuação de Gabriel não vai ser esquecida pelos brasileiros e nem mesmo por ele: 

### “É muito frustrante, vai ser difícil assimilar isso. Parece que tiraram um pedaço de mim”, disse o centroavante depois da eliminação do Brasil para a Bélgica. 

E aí os defensores de Gabriel Jesus colocam Giroud na conversa. Sim, o centroavante francês do Milan. O cara foi campeão com a França em 2018 sem acertar um mísero chute no gol. Foram 13 chutes na competição, mas a pontaria não estava lá estas coisas. É claro que é mais ‘fácil’ aceitar a falta de gols após ganhar o mundial, mas é algo que com toda a certeza os franceses não se esquecem.

![Giroud](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/hXl5LPHKMqQcpPLitunWL/2c2299e24ec4bda5822f28f5ab2ec2ae/FRA-ARG__18_.jpg)

Parece que agora a confiança de Gabriel em si mesmo voltou. Ele tomou uma decisão importante para a sua carreira, voltar a ser protagonista no clube que joga. Por isso, ele saiu do City para ser destaque desta reformulação do Arsenal. E tá dando certo. Em 11 jogos na Premier League, ele marcou 5 vezes e já deu 3 assistências. O começo foi bem mais avassalador, mas mesmo assim são números bons e mais que isso, a sua participação nos jogos também são boas. Mesmo quando não marcou, deu opção e foi perigoso na área.

### “Eles podem levar a bola para casa, eu fico com os três pontos” - Mourinho, José

Bom, para a galera que acha que estatística ganha jogo, provavelmente fãs do Guardiola e haters do Mourinho, vamos comparar alguns números de Gabriel Jesus, Arsenal, Richarlison, Tottenham, Roberto Firmino, Liverpool, e Pedro, Flamengo, os possíveis cotados para executar a função de trazer a alegria do povo brasileiro: fazer gols. E se a decisão fosse por conta destes números, spoiler: Pedro deveria ser o titular.

![Tabela](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/4q21M9nBbiPKswSTm4anx8/9894c8185b0763b79039f2cd021ce40b/Tabela.jpg)

## Menos estatística, mais emoção

Outro fator que dá pontos para o Pombo é a conexão que muitos torcedores têm com ele. Ao contrário de muitos jogadores, Richarlison sempre se posiciona nas redes, seja para falar sobre racismo, desmatamento, covid-19 e apagão no Amapá. Isto traz o apelo dos torcedores. Ele se preocupa com questões de extrema relevância social. Ele é gente como a gente. Frase clichê, mas que representa muito bem o sentimento dos brasileiros em relação ao 9 do Tottenham e da Seleção.

Deixando o coração de lado e pensando o mais racional possível, talvez Jesus seja sim a melhor opção para ser o 9 titular da seleção. Mas, o que é futebol apenas com lógica? Nada. Este esporte que amamos é jogado com o coração. Richy, como os ingleses o chamam, tem um tatuado.

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overflow:hidden; padding:8px 0 7px; text-align:center; text-overflow:ellipsis; white-space:nowrap;"><a href="https://www.instagram.com/p/CjwD5xSqEOc/?utm_source=ig_embed&amp;utm_campaign=loading" style=" color:#c9c8cd; font-family:Arial,sans-serif; font-size:14px; font-style:normal; font-weight:normal; line-height:17px; text-decoration:none;" target="_blank">Uma publicação compartilhada por Richarlison (@richarlison)</a></p></div></blockquote> <script async src="//www.instagram.com/embed.js"></script>

Então me desculpe, fãs do Gabriel Jesus, mas apesar de tentar comprar a sua ideia da titularidade ser do Gabriel, não vou conseguir concordar. Richarlison deve ser o 9, pelo menos no primeiro jogo da seleção e é bom ele jogar muito, porque tem um cara doido no banco querendo recuperar a confiança na Seleção. E quem deve ganhar muito com esta disputa na titularidade são os brasileiros, até porque o que importa mesmo é que o quase utópico hexa finalmente se torne real.

**dados são de maio de 2022.


GABRIEL JESUS

Pode não ser no primeiro ou segundo jogo, mas o cara está lá.

Gabriel Jesus pode ser titular em mais uma Copa — e você tem que aceitar isso

São vários os impactos de levar uma Copa do Mundo, o maior evento esportivo do planeta, para um país onde a cultura do futebol é praticamente inexistente. Por causa disso, os torcedores catari estão tendo uma experiência provavelmente 100% única e nova em suas vidas: torcer. 

Mesmo assim, um grupo de torcedores chamou a atenção na abertura da Copa, na partida entre os anfitriões e a seleção do Equador. Dezenas de torcedores estavam ali atrás dos gols e apoiaram a seleção da casa durante os 90 minutos com um jeito “Ultra” de torcer. Os cânticos e a tentativa de tornar a arquibancada mais pulsante levantou a dúvida: onde aprenderam isso?

Foi aí que o parceiro do PELEJA, O Canto das Torcidas, trouxe uma resposta que também não deixa de ser bizarra. Antes do torneio, líderes de torcidas de países vizinhos foram “contratados” para “ensinar” os catari a torcer. A entonação dos cantos, o modo de pular de forma sincronizada, as movimentações na arquibancada; tudo foi ensinado e aprendido pelos anfitriões. Inclusive, quem comanda esses novos “Ultras do Catar” é a torcida ultra Supernova, do Nejmeh FC, um time do Líbano.

<figure>
  <img src="https://www.middleeasteye.net/sites/default/files/styles/article_page/public/images-story/ultras_3.jpg?itok=2fnz2PDz" alt="Supernova">
  <figcaption>Os Ultras Supernova durante um protesto no Líbano (Ali Gharbieh/MEE)</figcaption>
</figure>

Em uma realidade de investimentos bilionários vindos do Catar; desde a montagem do estrelado time sensação do momento, o PSG, até a construção para a Copa dos estádios luxuosos - e controversos, como já contamos na matéria capa do site -, parece que eles realmente não deixaram escapar nada. Até a torcida foi contratada. 

<blockquote class="twitter-tweet"><p lang="pt" dir="ltr">No vídeo abaixo, os ultras do Nejmeh &quot;treinando&quot; os cataris para torcerem como um grupo ultra, visto que cultura de arquibancada é praticamente inexistente no país.<br><br>+ <a href="https://t.co/9qxRfKkJmY">pic.twitter.com/9qxRfKkJmY</a></p>&mdash; O Canto das Torcidas (@OCantoOficial) <a href="https://twitter.com/OCantoOficial/status/1594665108948619266?ref_src=twsrc%5Etfw">November 21, 2022</a></blockquote> <script async src="https://platform.twitter.com/widgets.js" charset="utf-8"></script>

## La Cerveza

Também na partida entre Catar e Equador, os sul-americanos protagonizaram uma cena curiosa na arquibancada durante a abertura da Copa. O cântico ‘queremos cerveza, queremos cerveza’ foi lançado pelos equatorianos ainda no primeiro tempo da partida, depois do Catar proibir a circulação de bebidas alcoólicas nos entornos dos estádios, surpreendendo o mundo, a própria FIFA e principalmente a Budweiser, patrocinadora oficial do torneio.

<blockquote class="twitter-tweet"><p lang="es" dir="ltr">La hinchada <a href="https://twitter.com/hashtag/ECU?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#ECU</a> ya tiene el primer hit del <a href="https://twitter.com/hashtag/FIFAWorldCup?src=hash&amp;ref_src=twsrc%5Etfw">#FIFAWorldCup</a> : “Queremos cerveza, queremos cerveza” <a href="https://t.co/Pk91fYLug5">pic.twitter.com/Pk91fYLug5</a></p>&mdash; Javier Lanza (@javierlanza) <a href="https://twitter.com/javierlanza/status/1594370891726848000?ref_src=twsrc%5Etfw">November 20, 2022</a></blockquote> <script async src="https://platform.twitter.com/widgets.js" charset="utf-8"></script>

Os milhares de torcedores do mundo que se deslocaram para o Catar vão ter que se adaptar à nova realidade imposta de acompanhar o jogo sem o álcool no sangue. Bom, os brasileiros de São Paulo não vão ter esse problema.


Ultras do Catar

Se você nunca tinha visto eles antes, fica tranquilo, ninguém mais tinha.

Os ‘Ultras’ do Catar: quem é a torcida organizada que ficou atrás do gol durante a abertura

Tem matérias no site da Globo, inspirações de design nas tradições e costumes dos povos mais antigos do Catar, e até youtuber famoso que foi lá conhecer cada uma das obras e mostrar como são “lindos” os estádios da Copa do Mundo de 2022.

Só que no meio de todos esses conteúdos sobre “as belezas arquitetônicas” dessa Copa, existem mortes, abusos e violações que não cabem na homepage da maioria dos sites esportivos que já estão prontos para cobrir a grande festa. 

Por isso, o PELEJA traz informações sobre cada um dos estádios e alguns extras que você precisa saber:

## Al Bayt Stadium

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  <img src="https://dar.com/CMS/Content/ResizedImages/1287x10000xi/211227021545495~Image1.jpg" alt="AlBayt">
  <figcaption>Reprodução: DAR</figcaption>
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A Copa vai estrear em um estádio para 60 mil pessoas, construído completamente do zero, com direito a suítes de luxo nos camarotes, iluminação especial e o principal: 100% climatizado com ar condicionado embaixo de praticamente todos os assentos da arquibancada e espalhados pela construção.  

O Al Bayt Stadium é considerado uma das “construções-modelo” para esse Mundial, já que quando o Catar prometeu para FIFA que conseguiria fazer uma Copa no deserto, o “problema” do calor seria resolvido, posto que uma das grandes preocupações era como os jogadores e torcedores iriam aguentar as temperaturas do verão catari.  

Para ajudar um pouco nessa situação, a organização topou esmagar o calendário do futebol mundial e levar o torneio pela primeira vez na história para o inverno do hemisfério norte, assim, durante a competição, todos que fazem parte do espetáculo estarão totalmente confortáveis.

### Mas ninguém constrói um Al Bayt em alguns anos trabalhando só no inverno. 

As informações reais sobre a quantidade de mortes de trabalhadores nos estádios e obras ligadas à Copa do Mundo se tornaram impossíveis de se conseguir, como apontou a matéria do jornal alemão Die Weller, mas estimativas feitas por outros veículos de imprensa com instituições dos direitos humanos e embaixadas dos países de muitos imigrantes, apontam um recorde negativo, sendo muitas delas ligadas a desidratação e doenças por causa das más condições de trabalho durante o verão.

De acordo com uma matéria do jornal inglês The Guardian, que contatou essas embaixadas, houve um aumento considerável de mortes de trabalhadores no Catar por insuficiência cardíaca e infartos, que são registradas como “morte por causa natural e fora do ambiente de trabalho” pelo governo Catari. Na mesma matéria é citado um estudo publicado na Cardiology Journal, que faz uma correlação direta desse aumento bizarro e a exposição de trabalhadores por longos períodos em temperaturas extremas.    

## Lusail Stadium

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  <img src="https://www.qatar2022.qa/sites/default/files/styles/1440x815/public/2022-08/meta%20%281%29_39.jpeg?h=ec041e41&itok=ExASb1MQ" alt="Lusail">
  <figcaption>Reprodução: FIFA</figcaption>
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O maior estádio, sede da grande final e arena para 80 mil pessoas, é um símbolo do como o país enxerga essa Copa. No Catar quase não tem cataris: 25% da população é composta por imigrantes indianos que fazem parte da camada mais vulnerável da sociedade, vivem em áreas periféricas e tentam a sorte em um país emergente.

A cidade de Lusail, que fica colada em Doha assim como o resto das outras sedes, simplesmente não existia antes do Catar ser escolhido para sediar o mundial. O governo achou que seria uma boa oportunidade construir do zero uma cidade tecnológica e luxuosa junto com esse estádio gigantesco, que também não deve receber nenhum jogo importante assim que a Copa terminar. 

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  <img src="https://www.qatar2022.qa/sites/default/files/styles/1440x815/public/2022-09/story_of_lusail_3.jpg?h=39b94f55&itok=l0RutOdx" alt="Lusail">
  <figcaption>Reprodução: FIFA</figcaption>
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A que ficou conhecida como “a cidade fantasma” hoje é cheia de prédios gigantes e vazios, além de ter custado cerca de 45 bilhões de dólares. No total, foram 220 bilhões investidos em 12 anos para construir estádios e infraestrutura para possibilitar a Copa do Mundo no Catar – no Brasil, segundo uma investigação do Globo Esporte, foram gastos menos de 32 bilhões de reais.  

## Khalifa International Stadium

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  <img src="https://www.qatar2022.qa/sites/default/files/styles/1440x815/public/2022-08/Khalifa-International-Stadium.jpg?h=b5673621&itok=_sZr4yIe" alt="Lusail">
  <figcaption>Reprodução: FIFA</figcaption>
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Mesmo sendo o único estádio que já existia antes de virar sede da Copa do Mundo, o Khalifa International Stadium não tem muito a ver com futebol. A arena, que existe desde o fim dos anos 90 e nunca foi usada com frequência por nenhum clube, só teve grandes reformas para sediar competições de atletismo. 

E foi de lá que as primeiras grandes denúncias de exploração de trabalhadores saíram. Quando a Anistia Internacional esteve nas obras de reforma do estádio no meio de 2015, a entidade entrevistou 99 imigrantes envolvidos no projeto. Os relatos deles foram as primeiras evidências do grande dossiê publicado ainda em 2016.

## 974

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  <img src="https://i0.wp.com/thepeninsulaqatar.com/get/maximage/20211130_1638250050-67.jpg?w=1170&ssl=1" alt="974">
  <figcaption>Reprodução: FIFA</figcaption>
</figure>

O “estádio sustentável” da Copa do Mundo é o que traz o conceito mais complexo de todos. Além de fazer referência ao código de área do Catar, +974, ele usou essa exata quantidade de contêineres para fazer parte da estrutura da obra. Os contêineres, aliás, foram escolhidos para representar o Porto, que fica na região do estádio, e para facilitar a “desmontagem”, já que essa construção será destruída completamente depois da competição – mesmo demorando mais de 10 anos para ficar pronta.

Durante esses anos, outros contêineres foram protagonistas nas moradias dos trabalhadores que fizeram parte das construções. Ao serem escolhidos para trabalhar nas obras, os imigrantes tinham que pagar uma taxa, já que além do salário mínimo eles teriam direito a moradia em algumas “vilas” que foram construídas.

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  <img src="https://dohanews.co/wp-content/uploads/2013/11/IMG_2213-771x514.jpg" alt="DOHA">
  <figcaption>Reprodução: Doha News</figcaption>
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Segundo o jornalista Pete Pattinson, que esteve no Catar alguns meses antes da Copa, nessas “cabanas” moravam  até seis homens de uma vez e estavam na sua maioria lotadas e sujas. Ainda de acordo com a série de reportagens dele, essa “taxa de recrutamento” impediu que alguns trabalhadores mandassem dinheiro para suas famílias por meses, porque  tinham essa “dívida”. 

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  <img src="https://media.npr.org/assets/img/2015/05/18/ap162271662616_slide-63d9da38cf43ef868331128cf33ca04e19c3094c-s1100-c50.jpg" alt="NPR">
  <figcaption>Reprodução: NPR</figcaption>
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## Al Thumama Stadium

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  <img src="https://digitalhub.fifa.com/transform/51c787c0-297c-454d-84c7-c931cd9bcc7d/FIFA-World-Cup-Qatar-2022-Venue-Aerial-Views" alt="AlTHumama">
  <figcaption>Reprodução: FIFA</figcaption>
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O estádio que tem formato do tradicional chapéu árabe, tinha a ideia de ser o primeiro estádio subterrâneo do mundo, uma obra que seria impossível de concluir dentro dos 10 anos de preparação. 

Ainda assim, o Al Thumama se tornou uma dos investimentos mais caros do Mundial por contar com um sistema ultra tecnológico de reutilização de água, além de também ser um dos totalmente climatizados com ar-condicionado. 

Para a construção dessa obra ousada, muitos trabalhadores que chegaram no início do projeto foram direto para lá. Só que dentro desse grupo, a maioria era de países mais pobres, como o Nepal e Bangladesh. 

Também como em outras obras, de acordo com relatórios da Anistia Internacional, parte deles não sobreviveram para arcar com a taxa que era cobrada por agentes por um visto de trabalho, o que deixava famílias que já eram pobres ainda mais endividadas, como mostra a história publicada pela BBC no dia 16 de novembro 2022, quatro dias antes da estreia da Copa.

## Education City Stadium

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  <img src="https://digitalhub.fifa.com/transform/ab4afd3b-c67c-43f7-b4a5-829799c6cfbe/cakdqx4mi9lxoadg1opg-jpg" alt="EC">
  <figcaption>Reprodução: FIFA</figcaption>
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O estádio que ficou conhecido como "Diamante do Deserto” foi feito e concebido para prestigiar um dos projetos mais importantes do Governo Catari nesse século, a Qatar Foundation. Você deve se lembrar desse nome estampado na camisa do Barcelona por algumas temporadas. Uma organização sem fins lucrativos que investiu muita grana em uma cidade universitária, agora também tem um estádio para 40 mil pessoas no mesmo complexo. 

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  <img src="https://static.dw.com/image/16440430_605.jpg" alt="MESSI">
  <figcaption>Reprodução: DW</figcaption>
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Assim como outros projetos internacionais do Catar, a fundação é acusada de ser usada como uma maneira de pressionar a comunidade internacional investindo bilhões em universidades pelos países mais poderosos do mundo, criando laços e tentando “mudar a imagem” do país no exterior. 

## Al Janoub Stadium

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  <img src="https://assets.goal.com/v3/assets/bltcc7a7ffd2fbf71f5/bltdac600f477daf059/6228d373cc1c0d0bd5386fa9/large-1920px.jpg?format=jpg" alt="AlJanoub">
  <figcaption>Reprodução: FIFA</figcaption>
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O primeiro jogo do Estádio Al Janoub vai ser logo de cara um França x Austrália. E se os holofotes vão estar na estreia da atual campeã, a adversária pode se tornar um personagem ainda mais interessante. Apesar de não ter sido convocado para o Mundial, o australiano Joshua Cavallo se tornou, em 2021, o único jogador profissional assumidamente gay a jogar na primeira divisão, e os seus colegas de seleção fizeram questão de se manifestar contra a atual abordagem do governo Catari sobre o assunto.   

Há menos de um mês, os jogadores da Austrália se reuniram em um vídeo apontando todas as suas preocupações com as denúncias de exploração de trabalhadores e pediram que a segurança das pessoas da comunidade LGBTQIAP+ seja garantida também depois do fim do torneio.

## Ahmed bin Ali Stadium

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  <img src="https://www.qatar2022.qa/sites/default/files/styles/1440x815/public/2022-08/Ahmad-Bin-Ali-Stadium.jpg?h=8f9cfe54&itok=zt2GOB01" alt="AlJanoub">
  <figcaption>Reprodução: FIFA</figcaption>
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O último estádio da lista teve como um dos seus grandes focos a sua fachada, toda coberta em LED, para fazer grandes shows de luzes nos jogos à noite. É do lado de fora que os torcedores que forem ao Catar vão poder prestigiar melhor essa atração. Seria também nessa região que ficariam os espaços reservados para o consumo de bebidas alcoólicas. 

Depois de não ficar satisfeito com o resultado do teste que rolou no Mundial de Clubes de 2019, para a Copa do Mundo, o comitê organizador tinha decidido que iria concentrar todo o consumo de álcool em um ambiente restrito, próximo à segurança e só para quem tem ingresso. Dessa forma, segundo o próprio comitê, essa prática que não faz parte dos costumes da população local se tornaria um pouco mais “privada”.

Mas a privacidade sobre esse assunto colocou até a FIFA em uma situação desconfortável, já que na semana da estreia, a família real decidiu que não queria mais nem esse espaço ao redor dos estádios e agora só que tem acesso a camarotes específicos poderá beber antes dos jogos. Sendo uma das maiores e mais importantes patrocinadoras da FIFA há anos, a marca de cerveja oficial do torneio não ficou feliz com a novidade de última hora.

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  <img src="https://pbs.twimg.com/media/Fh1_35xXwAIMOye?format=jpg&name=900x900
" alt="Bud">
  <figcaption>REPORDUÇÃO: TWITTER</figcaption>
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A Copa do Mundo de 2022 é um marco histórico e uma consequência de fatos que vêm se desenhando desde o início do século. O futebol vai continuar sendo um “show” e o torneio precisa de estádios para acontecer, mas nada pode apagar o que foi feito e o que se deixou de fazer pelas pessoas que tornaram ele possível. 


Ilustração Estádios Catar

Os segredos que nem os arquitetos dessas obras estão dispostos a comentar.

A verdadeira lista dos estádios da Copa do Mundo 

Muito provavelmente você não viu, mas um protesto aconteceu na abertura da Copa do Mundo de 2014. No centro do estádio do Corinthians, pouco antes do início da partida Brasil x Croácia, um indígena ergueu uma faixa que dizia “DEMARCAÇÃO JÁ”.

Como a justiça e a realidade não são favoráveis, a Copa do Mundo, o maior espetáculo esportivo do planeta, foi a vitrine ideal para a exposição da causa ao mundo inteiro. Durante a cerimônia de abertura a polêmica faixa permaneceu escondida no calção de um jovem, até que, instantes antes do apito, foi revelada. O cartaz erguido pelo rapaz era um protesto referente a uma questão urgente no Brasil. A luta pela demarcação das terras indígenas é travada há muito tempo e busca garantir aos nativos o direito de ter seu espaço reconhecido e assegurado para viver conforme sua organização social, cultivando seus costumes, crenças, línguas e tradições. 

Veículos tradicionais pouco noticiaram o momento histórico e a FIFA também ocultou o protesto e editou as gravações, escondendo o ocorrido até hoje.

Querendo saber mais sobre isso, colei na aldeia Krukutu da Terra Indígena Tenondé Porã pra trocar ideia com os protagonistas do fato.

A comunidade *Guarani M’bya* fica em Parelheiros, no extremo sul de São Paulo, e eu já cheguei lá em meio a uma torcida entusiasmada que lotava as arquibancadas - na verdade eram morrinhos que cercavam o campo de futebol da aldeia. Situado às margens da represa Billings, o gramado irregular e cheio de terra recebia um legítimo embate de futebol de várzea. 

Para minha sorte, o jogo era um clássico que faz ferver a atmosfera do lugar: o  Athletico Krukutu, equipe local, recebia o time da *Tekoa Tenondé Porã*, a Aldeia da Barragem (que leva o mesmo nome da Terra Indígena). Mesmo sem conhecer o time da casa é possível identificar a camisa deles: trata-se de um uniforme inspirado no do Clube Athletico Paranaense. 

Tupã, o craque da equipe, não parece, no entanto, ligar muito para essa possível influência.

## "Não sei [se foi inspirada no Athletico-PR]. Os caras fizeram a camisa e entregaram” - ouvi dele.

![Kruku](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/41OuYMoCpo8uzv0iSahhmG/46023241b1de56305c926efd8fc52a5a/WhatsApp_Image_2021-05-13_at_16.03.22.jpeg)

Na torcida tinha mais mulher do que homem, mas se engana quem pensa que elas estavam ali só pra torcer: as *kunhãs* gritavam ao mesmo tempo que esperavam a partida terminar, pois também jogariam.

“Aqui ninguém guarda posição”, dizia Olívio Jekupé, meu guia na aldeia, em tom de comentarista. Jekupé é um dos maiores nomes da literatura nativa do país e tem 22 livros publicados. Foi ele, inclusive, que me contou com detalhes o acontecimento da abertura da Copa.

### “A FIFA esteve aqui na aldeia e, na época, convidou jovens para fazerem parte da abertura. Eu indiquei o Werá, porque ele tinha 13 anos e já entendia o português. Daí, as lideranças fizeram umas reuniões e planejaram elaborar a faixa. O Werá entrou depois da Seleção e dos juízes e foi até o meio-campo. Ele estava com a faixa escondida na bermuda e, logo em seguida, tirou ela e começou a andar no campo com a mensagem ‘DEMARCAÇÃO JÁ’.”

Olívio, que acredita na versão de que o povo Guarani já conhecia a bola antes da invasão dos europeus, é pai do garoto que enganou a FIFA em 2014. 

Alguns anos se foram e o pequeno guerreiro se tornou um dos maiores rappers indígenas do Brasil: Werá Jeguaka Mirim passou a adotar o nome artístico de Kunumi MC. E não esqueceu aquele papo de Demarcação. Utilizando seu som como ferramenta de luta, ele tem inúmeros sucessos como “Demarcação Já - Terra, Ar, Mar”, música em parceria com Criolo que inicia com um tradicional canto guarani:

*“Pemeen jevy pemeen jevy Orevy peraa va'ekue roiko'i, peraa va'ekue roiko'i”*

“Nos devolvam a terra que vocês nos tiraram para que a gente possa viver”

<a href="https://youtu.be/fNSMq9TORw4" class="embedly-card" data-card-width="100%" data-card-controls="0">Embedded content: https://youtu.be/fNSMq9TORw4</a>

Imerso nessas relações entre indígenas, futebol e rap nativo, encontrei na Zona Oeste de São Paulo outra aldeia que vive tudo isso. Na *Tekoa Itakupe*, Terra Indígena do Jaraguá, quem falou comigo também foi um rapper de destaque. Assim como Kunumi MC, Mirindju - o Mano Glowers - também gosta de futebol e usa sua arte pra lutar pelos direitos dos indígenas.

Parceiros no RAP, Kunumi e Mano Glowers viram rivais quando a bola rola: o primeiro é corintiano, enquanto o segundo é santista - mas não por influência de seu ídolo na música, Mano Brown. Por outro lado, inspirado no líder dos Racionais MC’s, Glowers desenvolveu a paixão pelo gênero musical. O RAP, que denuncia a realidade dura das quebradas e as injustiças vivenciadas pela comunidade, é presente na vida de muitos indígenas do Jaraguá. Isso porque as aldeias dessa região estão bem perto de algumas periferias, o que aproxima os nativos de muitos elementos da cidade, como o Hip-Hop. Foi desse contato que nasceu o grupo OZ Guarani, do qual Mano Glowers faz parte. Um verso de Mirindju mostra a influência dos Racionais na sua trajetória:

## Prazer, sou Mano Glowers, sobre sobreviver no inferno

Esse trecho faz alusão ao histórico álbum Sobrevivendo no Inferno, de 1997, que é tido por muitos como o mais importante do RAP nacional. Nessa pegada de rimar em português e guarani como forma de transitar pelo mundo sem deixar de valorizar e preservar sua cultura, eles lançaram sons como Contra a Pec 215 e Conflitos do Passado. O futebol, a outra paixão da aldeia, também aparece nos versos. Se liga nesse trecho de “[O Índio é forte](https://youtu.be/iXIpDa28HQU)”: 

*"Um dia de sol, na zona oeste, Jaraguá, Tekoa, os mano e as mina no campo jogando bola, a criançada brincando, com o sorriso no rosto, sendo feliz, assim que é, no meu olhar, *xerexa´py aexá* [no meu olhar eu vejo]”.*

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/5B9VaZLGAmp3aYdfUFTg1J/1e45ba50fc364281f1c7ca597a50893f/5c619c5108f3d9d4748b4569.jpg" alt="Oz Guarani">
  <figcaption>Grupo Oz Guarani durante apresentação.</figcaption>
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Para além do Hip-Hop, de forma semelhante à que acontece na *Krukutu*, o futebol se materializa na *Tekoa Itakupe* através dos dois campos, ambos idealizados por lideranças femininas. O futebol para eles é fundamental porque lá o esporte proporciona mais do que um espaço de diversão: é, sobretudo, a salvação dos jovens M’bya, subgrupo da etnia Guarani. Sobre isso, Kandara Yamani, que também vive na aldeia e está na linha de frente da luta pelos direitos dos Guarani, toca em uma ferida da comunidade:

### “O tabaco e a folha da coca são sagrados, mas quando se tornam uma matéria do capital, tudo se distorce. Retira-se o caráter ritualístico do consumo. Os jovens, ainda que aldeados, têm contato com essas e outras drogas como maconha e crack. Há uma vergonha por ter deixado isso chegar à comunidade. O futebol, então, tem papel fundamental na integração e no divertimento das crianças, além de afastá-las do que não é bom”

Depois de um assunto delicado, o próprio Mirindju, para quebrar o clima tenso, me conta que tem uma galera muito boa com a bola no pé; os que se destacam são chamados para uma espécie de Seleção do Jaraguá: os melhores das *Tekoa Itakupe, Pyau e Ytu* vão representar a Terra Indígena nas quebradas próximas.

Após conversar com importantes representantes indígenas, percebi que o ato de Kunumi MC em 2014 tem significações muito mais profundas do que se imagina. Erguer a faixa ‘DEMARCAÇÃO JÁ’ é produto de uma luta de séculos que se desdobra também no futebol e no RAP. O esporte e a música são dois dos muitos espaços que os *Guarani M’bya* estão existindo, resistindo e se reinventando. Aliás, a incorporação de elementos não-indígenas à sua cultura não tira deles sua condição de nativos - eles seguem cultivando seu nhandereko: suas tradições, seu modo de viver, pensar e agir.  

*“E pra você sou eu que estou errado por usar internet
e não andar pelado, isolado...
pensamento colonial, retrógrado e limitado
pois pra mim ser indígena é me sentir e ser livre”*

-Trecho traduzido de “Xondaro Ka’aguy Reguá” (Guerreiro da floresta) - Kunumi MC


Mirindju

Fui entender como o futebol e o hip hop amplificam a voz do indígena no Brasil.

O garoto indígena que enganou a FIFA

A temporada 2023 da Taça das Favelas chegou ao fim, e a maior edição do torneio até aqui pavimentou aquilo que tem tudo para ser o maior campeonato de comunidades periféricas do mundo. 

Na tarde de sábado (15), no Canindé, estádio da Portuguesa, a etapa nacional do torneio nas modalidades feminino e masculino chegou a sua decisão com muita expectativa. A Taça, que teve seu início no Rio de Janeiro, vem tomando a cidade de São Paulo nas últimas edições e foi destaque no site do PELEJA no fim de 2023. 

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/33NNgfYUzX8r0g6bgH10lY/0ccfec4e307109dd0d0b12a215b6b0be/Taca_Nacional_-86.jpg" alt="favelão 2023">
  <figcaption>SELEÇÃO DO RIO DE JANEIRO FAZ A FESTA PELO TÍTULO DA TAÇA DAS FAVELAS. FOTO: HENRIQUE RODRIGUES/PELEJA</figcaption>
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Diferente das decisões estaduais, onde só as quebradas finalistas compareceram ao Canindé, na final do Favelão uma enxurrada de bandeiras representando favelas dos quatro cantos da capital puderam ser vistas nas arquibancadas. Isso porque, nessa etapa, os estados formam seleções com os representantes das favelas que se destacam no estadual e, no caso do feminino, a seleção de São Paulo foi finalista contra a seleção do Rio de Janeiro. 

Com os portões abertos ao meio-dia, alguns setores tiveram que ser liberados aos poucos no decorrer da tarde para receber o público que chegava em caravanas organizadas pela CUFA, Central Única das Favelas, uma das responsáveis pelo evento - os torcedores vinham das próprias comunidades e muitos de metrô. 

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/6UltgsHv5kLPlRWm6sdQky/4aeb75045d1d0a709a3eb837ca32dad0/Taca_Nacional_-24.jpg" alt="faixas taça das favelas">
  <figcaption>A COLEÇÃO DE FAIXAS REPRESENTARAM FAVELAS DIFERENTES DO ESTADO DE SÃO PAULO.  FOTO: HENRIQUE RODRIGUES/PELEJA</figcaption>
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Junto com os grupos, chegaram também faixas de diversos times que representaram as favelas, além das diferentes camisas de várzea que são marca registrada no kit dos jovens das periferias.  

Além do prato cheio quando se trata de estética de arquibancada, essa reunião na Taça das Favelas também representa a influência do esporte nessas comunidades e a importância do apoio a esses eventos que alcançam famílias inteiras em situação de vulnerabilidade social.

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/IuTMriMZeY1irNAPr09cf/654cef0f721b8168877a9f9bc33c958b/Taca_Nacional_-32.jpg" alt="faixas taça das favelas">
  <figcaption>JOVENS APROVEITARAM A TARDE DE SÁBADO PARA IR AOS JOGOS NO CANINDÉ. FOTO: HENRIQUE RODRIGUES/PELEJA</figcaption>
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O projeto, que começa como um torneio de futebol para jovens atletas, aproxima-se da missão de auxiliar moradores de favelas pelo Brasil e trazê-los para perto de projetos sociais. A Friboi, patrocinadora master da Taça das Favelas, entende que esse apoio é fundamental para que ações como essa cresçam juntamente com a marca, que é especialista em um produto essencial na alimentação dos brasileiros.

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/6u7Zj0TUzYY6p9qOHP1Xst/bd0039f5010975ea911fcbdfa9443113/Taca_Nacional_-5.jpg" alt="friboi na taça das favelas">
  <figcaption>NATHALY ORTEGA, DO MARKETING DA FRIBOI, FALA PARA O PÚBLICO SOBRE A PARTICIPAÇÃO DA MARCA NA TAÇA DAS FAVELAS. FOTO: HENRIQUE RODRIGUES/PELEJA</figcaption>
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A festa da grande final da Taça das Favelas, em um estádio tão icônico como o Canindé, representa o compromisso com essa missão e atrai, por meio do futebol, milhares de pessoas que, dia a dia, são impactadas pelo projeto.

Dentro de campo, tanto as meninas quanto os meninos deram um show.

Em uma disputa acirrada que foi definida nos pênaltis, a Seleção do Rio levou a melhor sobre o time paulista, que também celebrou a campanha até ali. Já entre os meninos, o grande jogo da equipe do Paraná não desanimou os capixabas, que lutaram até o fim para tentar buscar o empate e mesmo com a derrota, também valorizaram a chegada até a final.

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/6kyGJf5oCivx3zXGMUgAk9/ce7fcc0c5eb49800172a439a57868ae1/Taca_Nacional_-46.jpg" alt="rio de janeiro campeão">
  <figcaption>SELEÇÃO DO RIO DE JANEIRO COMEMORA VITÓRIA E TÍTULO NA DISPUSTA POR PÊNALTIS. FOTO: HENRIQUE RODRIGUES/PELEJA </figcaption>
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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/1zo9PFmbkENFWU3cdg0f8o/132b1a4020cd7ca350372de313f0eb58/Taca_Nacional_-100.jpg" alt="friboi taça das favelas cheque">
  <figcaption>VALE DE 100KG DE CARNE FRIBOI PARA O CHURRASCO DAS CAMPEÃS. HENRIQUE RODRIGUES/PELEJA </figcaption>
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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/3kGCIdjzj7GGz0DduYLB3G/396a06d8517f95271fe6ca88bf75c729/Taca_Nacional_-101.jpg" alt="friboi taça das favelas final masculina">
  <figcaption>VALE DE 100KG DE CARNE FRIBOI PARA O CHURRASCO DA SELEÇÃO PARANAENSE. HENRIQUE RODRIGUES/PELEJA </figcaption>
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A Taça das Favelas segue seus preparativos para a temporada 2024 e agora organiza até uma Série B, rumo a mais festas nos estádios e ainda mais impacto social. 

SELEÇÃO DO PARANÁ FAZ A FESTA PELO TÍTULO DA TAÇA DAS FAVELAS. FOTO: HENRIQUE RODRIGUES/PELEJA

taça das favelas nacional

Partidas que foram transmitidas pela TV Globo para todo Brasil movimentaram as favelas da capital paulista para lotar o estádio da Lusa nos jogos entre Rio x São Paulo e Paraná x Espírito Santo..

A final nacional da Taça das Favelas juntou todas as quebradas no Canindé	

Fernanda Lima

O futebol é vivo, mutável, território de criação e disputas, e por isso novos capítulos são acionados à sua história diariamente. E os grandes responsáveis pela maioria dessas mudanças sociais e culturais do esporte, as mais profundas, são os torcedores. 

Em meio a um cenário de reivindicações sobre preço dos ingressos, festas nos estádios e participação mais ativa nos rumos dos clubes, movimentos de torcedores estão surgindo pelo país para debater, revisitar, afirmar e construir novas identidades nas torcidas. Um deles é o __Zumbi dos Palmeiras__. 

O coletivo surgiu em 2023 como uma forma de se conectar com os palmeirenses pretos e mostrar que, diferente do que dizem, sim, existem muitos negros entre os seus milhões de torcedores. 

![fogo nos racistas](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/5YdGWF2PtYhN1kExMULXfy/d392d3b6b3d2fc3eb62e5e238b5c944a/WhatsApp_Image_2023-09-28_at_15.25.54__1_.jpeg)

Associada por rivais à branquitude italiana e ao elitismo dessa classe no século passado, a torcida do Palmeiras tem entendido ao longo do tempo que precisa se mobilizar para contar os outros lados da sua história que costumam ficar escanteados - a presença das pessoas negras na construção e fortalecimento do clube e da torcida alviverde, por exemplo. 

Eu troquei uma ideia com o Renato Porto, fundador do Zumbi dos Palmeiras, para entender mais sobre os ideais do coletivo e como eles estão ocupando esse papel na transformação da imagem branca e rica que muita gente costuma ter de quem apoia o clube.

### "Quem tá na rua e na quebrada também é palmeirense. Olha quanto preto tem aqui. Você vai falar o que?"

![zumbi ](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/WcgU3Mj5zuZ6ErIES5yw3/9269f45b1dd6a7f5ef92b5e41456039b/WhatsApp_Image_2023-09-15_at_08.04.34.jpeg)

Homem negro, morador da periferia, jornalista há pouco tempo e palmeirense desde que nasceu, Renato era um dos que se sentiam excluídos pelas falas sobre o Palmeiras ser um clube de brancos. "Olha eu aqui", ele pensava. E percebendo essa pouca participação dos torcedores pretos nas festas que rolam nas arquibancadas do estádio é que ele juntou alguns amigos quem também se identificavam com a causa e criou um coletivo com a identidade e estética negra e de periferia.

![renato](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/PdiC8TKqM74QvpF2d0Umh/211b23023bb247ff04658a7334a38b1e/WhatsApp_Image_2023-09-20_at_18.19.56__3_.jpeg)

## "No Palmeiras não tinha nenhum movimento que abraçasse a causa preta, a galera da periferia, da quebrada. Tem movimentos antifascistas, mas com essa nossa identidade, não. Nenhuma torcida é uma coisa só. O mais importante é quebrar esse estereótipo e o pessoal da periferia se identificar com a gente.'"

Um nome forte que remete a um dos maiores ícones da luta pela liberdade do povo preto, garfo no cabelo black, punho cerrado, personalidades negras importantes e frases de luta contra o racismo chamam atenção nos posts nas redes sociais, nas camisas, bandeiras e adesivos personalizados. Renato me explicou que queria mostrar a identidade e os valores do coletivo logo de cara, com um nome potente, e que a serifa escolhida também é para representar a rua, seguindo o estilo de pichação e grafite. 

O lema do coletivo __"Pele preta e manto verde"__ chegou a provocar o questionamento de alguns torcedores pela referência ao preto, cor do maior rival, mas para Renato esse uso ultrapassa a discussão clubista. É a sua própria cor, a cor de um grupo que por muito tempo foi apagado da torcida e que agora está sendo resgatado. Além disso, ele explicou que nas artes a cor é um verde em tom escuro, o que, segundo ele, também é simbólico.

### "Pele preta e manto verde. Isso diz muito sobre a gente, sobre querermos nos conectar com o preto palmeirense."

![zumbi dos palmeiras instagram](//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/7uY8z5s30fA4xjn0NZtCq6/d9ee8159f1c4d730d41a4ce284be3731/WhatsApp_Image_2023-09-20_at_18.19.56__1_.jpeg)

E esse apagamento foi fortalecido pelo próprio clube, em certa medida. Isso porque há algum tempo acontece um afastamento gradual dos torcedores pobres dos estádios aqui no Brasil e pelo mundo. No Palmeiras, especificamente, isso contribuiu ainda mais para a ideia de que a torcida do clube era composta apenas por brancos com grana, e isso também é tema de discussão no coletivo. Sem ingressos a preços acessíveis, os torcedores palmeirenses de quebrada não conseguem acompanhar o time no Allianz Parque, uma das arenas mais modernas do país.

## "A diretoria também contribuiu pra isso. Não tem como tirar 300 reais do aluguel, da faculdade, da compra de casa pra ir pro estádio. A diretoria separou mesmo. O estádio não é pra todo mundo."

Já no fim da conversa, eu perguntei para ele sobre o apoio de outros torcedores ao trabalho importante de resgate e afirmação da cultura negra palmeirense que o Zumbi dos Palmeiras está fazendo.

## "A gente tá tendo um reconhecimento da torcida. A gente chega pra trocar uma ideia e a torcida abraça o nosso coletivo. Nós já escutamos coisas como 'eu tava cansado de ouvir falarem que o Palmeiras é só time de branco e italiano, ainda bem que vocês apareceram'." 

A expectativa é de que o coletivo cresça, ganhe mais adeptos e incomode quem não quer que as coisas mudem. O reconhecimento de outros torcedores ao Zumbi dos Palmeiras é um sinal de que existem aliados do movimento, e de que juntos eles podem ajudar a fortalecer a histórica identidade dos pretos palmeirenses, lutar por uma arquibancada mais diversa, menos elitizada e por um futebol realmente popular. 

### "O maior sonho é a galera ir se identificando e se conectando com a gente, porque a luta é de todo mundo."


zumbi

Em meio a um cenário de reivindicações, movimentos de torcedores estão surgindo pelo país para debater, revisitar, afirmar e construir novas identidades nas torcidas.

Por dentro das torcidas: Zumbi dos Palmeiras 

Cinthia Guimarães 

A final da Copa Libertadores da América feminina de 2023 terá o derby entre Corinthians e Palmeiras. Essa será a primeira vez que as equipes se enfrentam na competição e prometem mais um grande capítulo na história de rivalidade entre eles. Os dois clubes se tornaram uma potência na modalidade, e isso tem a ver com os projetos inovadores e ousados das instituições. 

O Palmeiras criou o seu time feminino em 1997 e foi um dos primeiros a investir na modalidade no esporte nacional. Poucos anos depois da fundação, a equipe já experimentava um sucesso impressionante: campeã do Campeonato Paulista em 2001, dos Jogos Regionais em 2005, 2008 e 2010, além de ser vice-campeã da Taça Brasil em 2000.

Após um período de inatividade de 7 anos, o Alviverde apostou em um projeto ambicioso de figurar entre os protagonistas dentro e fora de campo a partir de 2019. Na temporada inicial, colheu os primeiros frutos sagrando-se campeão da Copa Paulista de Futebol Feminino e garantindo acesso para disputar a Série A1 do Campeonato Brasileiro. Já em 2020, as palestrinas disputaram os dois campeonatos e fizeram história ao chegar à semifinal de ambas pela primeira vez, assumindo o posto de uma das quatro melhores equipes do país. Na mesma temporada, o sucesso do Palmeiras feminino fez a fornecedora de material esportivo do clube, a PUMA, fechar acordo inédito com o time para patrocinar 23 atletas.

Em 2021, o elenco do Palmeiras ganhou reforços e alcançou um feito inédito na história do clube: se classificar para a Copa Libertadores. Elas tiveram a melhor campanha na primeira fase do Brasileiro e fecharam a competição nacional como o segundo melhor ataque. Já no ano passado, a equipe conquistou o tão esperado título da Libertadores feminina na primeira participação do clube na competição. O time apresentou a segunda melhor campanha da fase de grupos e na decisão aplicou uma goleada sobre o Boca Juniors para levantar a taça. Para dar fim a uma temporada histórica e inédita, elas ainda conquistaram o título do Campeonato Paulista em uma partida que contou com o apoio de 20.071 torcedores, recorde de público da modalidade no Allianz Parque.

A equipe feminina do clube ainda se destaca no número de atletas que fazem parte da Seleção Brasileira, tendo um total de 15 jogadoras no grupo em 2021. Além disso, a modalidade passou a ter uma maior utilização do Allianz Parque e investimentos na sede administrativa e no centro de treinamento.

As principais conquistas do clube são uma Copa Libertadores (2022), dois vices do Brasileiro (2000 e 2021), dois títulos do Paulista (2001 e 2022), três Jogos Regionais (2005, 2008 e 2010) e dois títulos da Copa Paulista (2019 e 2021).

Já no lado do Corinthians, o time feminino passa por uma história parecida com a do Palmeiras. O Alvinegro deu o pontapé inicial na categoria em 1997, tendo como um dos maiores destaques da equipe e revelação na categoria a jovem Milene Domingues. Entretanto, ao não se firmar, a equipe acabou sendo desativada em 2008.

A instituição voltou a ter um time na modalidade em 2016, quando acertou uma parceria de dois anos com o Grêmio Osasco Audax, mas que ao final foi produtiva e colocou as alvinegras no mapa do futebol feminino brasileiro e sul-americano. Durante o período, elas conquistaram a primeira Copa do Brasil do clube e levantaram a primeira Libertadores (2017) - a partir daí, a diretoria decidiu gerir a equipe sozinha, com os próprios ideais. 

Cris Gambaré, que na época era conselheira do clube, se tornou diretora do futebol feminino, e o técnico Arthur Elias foi o responsável por treinar o time nessa nova era - os dois foram os grandes protagonistas do projeto corinthiano. Desde o início, Cris teve apoio do clube para fazer os investimentos necessários na equipe, incluindo médicos, preparadores físicos, psicólogos e nutricionistas próprios. Enquanto isso, Arthur montou um time quase imbatível, com um estilo de jogo próprio e a contratação de jogadoras que se tornariam destaque posteriormente.

Além disso, a modalidade possui um espaço destinado à base no CT Joaquim Grava, com uma grande infraestrutura para a formação das atletas - o Parque São Jorge, por exemplo, passou por reformas para abrigar até 5 mil pessoas e se tornou a casa oficial da equipe feminina, mas em jogos importantes, como as finais, os confrontos são disputados na Neo Química Arena.

Em 2020, pensando nos direitos das atletas, o Corinthians anunciou uma açã inédita: a profissionalização de todo o elenco - o que dobrou o investimento na modalidade. Assim, as jogadoras passaram a ter registro na carteira de trabalho, garantindo direitos como o de imagem e multa rescisória em contrato, evitando saídas repentinas do clube. 

Assim, com o incentivo e investimento na modalidade, o time se tornou tricampeão da Copa Libertadores (2017, 2019 e 2021), tricampeão do Campeonato Paulista (2019, 2020 e 2021), tri do Campeonato Brasileiro (2018, 2020 e 2021) e conquistou uma Copa do Brasil Feminina (2016), além da primeira edição da Supercopa do Brasil Feminina, que ocorreu em 2022, em uma das histórias mais espetaculares do futebol.

Atualmente, as duas equipes estão no ranking das melhores do futebol feminino feito pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol. Até o momento, os clubes já se enfrentaram em 24 partidas, sendo 14 vitórias do Corinthians, 5 do Palmeiras e 5 empates. Com projetos inovadores, consistentes e vitoriosos, os times se enfrentarão pela primeira vez na Libertadores, e logo em uma final, protagonizando o ápice do clássico e contribuindo para o fortalecimento da rivalidade na modalidade dentro e fora do Brasil.

Corinthians x Palmeiras na final do Brasileirão 2021. Foto: Rebeca Reis e Livia Villas Boas/CBF

corinthians x palmeiras

Essa será a primeira vez que o derby paulista acontecerá na competição, e a decisão colocará frente a frente projetos inovadores e vitoriosos.

Corinthians x Palmeiras e a maior final da história da Libertadores feminina 


O jovem japonês Kaoru Mitoma é um dos destaques da Premier League, protagonismo que já sustentava desde mais novo nas categorias de base do Kawasaki Frontale, um dos maiores times do Japão. Aos 18 anos de idade, ele quando dividir seu tempo entre treinar e ir para a universidade.

Na época, Mitoma justificou sua divisão de foco pelo desejo de cursar Educação Física na Universidade de Tsukuba, onde teria os melhores professores, nutricionistas, preparadores físicos e estudiosos de todo o país na área. Ainda com o intuito de jogar futebol profissionalmente, ele continuou vinculado à base do clube como estagiário. Nesse tempo, deu início aos seus estudos relacionados a dribles - uma de suas principais características desde a infância.

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  <figcaption>Mitoma jogando pelo Kawasaki Frontale. Foto: Koki Nagahama / Gekisaka</figcaption>
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O objetivo de desenvolver o projeto também era para conseguir aumentar sua capacidade de driblar adversários, e para isso ele estudou seu próprio corpo durante meses. Nos treinos, Kaoru mantinha uma *GoPro* em sua cabeça e uma outra câmera de apoio, filmando todas as suas fintas e movimentos de corpo para analisar minuciosamente o que o zagueiro do time adversário fazia e poderia fazer após sua ação.

Em entrevista ao site da Federação de Futebol do Japão, Koido Masaaki - professor que o ajudou - comentou sobre o estilo de jogo dele e como o atacante se desenvolveu para se tornar profissional:

## "Era tudo uma questão de intuição de jogo, então quase não falava nada. Ele não era um grande artilheiro durante seu tempo na universidade. Acho que ele ainda estava experimentando muitas coisas. Tive a impressão de que não estava tão interessado em fazer gols como está agora e estava mais focado em driblar os adversários à sua frente."

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  <figcaption>Karou Mitoma contra a Croácia na Copa do Mundo de 2022. Foto: Reproduçao</figcaption>
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Com as imagens da *GoPro* e da outra câmera, que se direcionava unicamente para a bola, seus estudos identificaram que o segredo para um drible bem-sucedido é mudar o centro de gravidade do adversário. 

## "Tenho consciência em mudar o centro de gravidade do oponente. Se eu conseguir mover o corpo do adversário, eu ganho." 

Mitoma escreveu em sua tese que está guardada no Laboratório da Universidade de Tsukuba e é constantemente acessada por atletas da instituição.

## "Na universidade, não só minha força aumentou, mas minha velocidade também. Minhas habilidades eram bastante altas quando eu era mais jovem, mas eu não era do tipo que aproveitava minha velocidade para passar à frente dos outros como sou agora. Acho que consegui usá-lo bem. O poder do meu drible característico dobrou", explicou para o site japonês Sports Graphics Number Web. 

Com 21 anos, após finalizar e publicar sua tese, ele voltou para o antigo clube e assinou seu primeiro contrato profissional. Sua estreia se deu no ano seguinte, quando também se firmou no time titular e marcou 18 gols em 37 partidas. O jovem jogador ainda passou a fazer parte da Seleção Japonesa, integrando o time que disputou os Jogos Olímpicos de 2020 - ele marcou um gol na decisão da medalha de bronze contra o México - e também a Copa do Mundo de 2022.

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/1QJSMvswKf8whSUbf7OSFR/0285bd0bc7ef2d1fb2eaf1150b63d17f/Mitoma-all-you-need-to-know.jpeg" alt="mitoma brighton">
  <figcaption>Mitoma comemorando gol pelo Brighton. Foto: Reproduçao</figcaption>
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Atualmente, Mitoma joga no Brighton desde a temporada passada - o clube está se destacando na Premier League pelo estilo de jogo e bons resultados - quando foi transferido do Kawasaki Frontale por 3 milhões de euros. Desde então, Kaoru se tornou um dos principais nomes da competição e foi um dos protagonistas na campanha que levou o clube à sua primeira competição europeia.


Karou Mitoma pelo Brighton na Premier League. Foto: Getty Images

mitoma

Um dos principais jogadores da Premier League só fez o primeiro jogo como profissional aos 22, quando terminou a faculdade.

Kaoru Mitoma: o jogador que foi para a universidade estudar sobre drible 

O senso de pertencimento é uma das coisas mais importantes no futebol. As cores, os nomes, os símbolos, os estádios, tudo isso constrói as identidades dos clubes e das torcidas, e fazem parte da história do esporte. Sem identificação não há torcedor, e sem torcedor não há futebol.

A criação desses vínculos e o fortalecimento dessas identificações passa muito pela vivência de estádio, que em si já é um espaço coletivo de expressão de emoções. Com a mudança para uma nova casa, esse senso de pertencimento leva um certo tempo para ser desenvolvido. Quem está vivendo isso de perto é a torcida do Atlético.

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/6Gi2C9RY4ksNYeIJLvti5d/8a68638a88c7eca395e0b93896817407/F_V3ZwfXUAAo-To.jpeg" alt="grafite atlético">
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O Galo inaugurou o seu novo estádio, a Arena MRV, em abril deste ano, e recebeu seus torcedores para o primeiro jogo em agosto. Desde então, os alvinegros estão se adaptando ao novo território e, para facilitar esse processo, um grupo decidiu usar uma das expressões artísticas urbanas mais conhecidas do mundo: o grafite.

Para entender mais desse movimento, eu troquei uma ideia com o Felipe Arco, um dos responsáveis por organizar a ação no bairro Califórnia, onde está situado o estádio do clube.

### "O grafite faz parte da cultura hip-hop e foi essencial pra eu mudar minha visão de mundo, minha visão de rua."

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/5F5ypsOwAUvMm3cG1efm3m/e692ebf7f8ce92f1bba539af4266a5e8/F_ap9y6W4AA-33G.jpeg" alt="felipe arco">
  <figcaption>Felipe Arco em ação durante grafites no entorno da Arena MRV</figcaption>
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Mineiro, atleticano, frequentador de estádio desde criança, grafiteiro há 15 anos e escritor, Felipe costuma juntar as coisas que ama para fazer as suas artes. Além de pintar os seus versos nos muros das cidades que passa, ele mobilizou outros artistas para dar uma nova cara para o entorno da Arena MRV na tentativa de fortalecer a identidade alvinegra no lugar.

## "A gente jogou quase a vida toda no Mineirão, então agora (com a mudança para a Arena MRV) a gente está passando por aquela fase, né?! É como mudar de casa, mudar de escola, tudo é muito estranho, tudo é muito novo. A gente sentia que o entorno ainda não tava com a cara do estádio, então a gente quis dar essa cara, deixar o bairro mais alvinegro pra quem passar sentir o novo amor, a nossa paixão pelo clube."

O Felipe ainda conta que essa ideia nova já vinha sendo debatida pelos torcedores, mas coube a ele, com a ajuda do tatuador Thiago Scap, dar o pontapé inicial do projeto. Com a ajuda do 1908 *stickers*, um grupo que produz e vende adesivos do Galo, eles abriram uma vaquinha e arrecadaram pouco mais de R$ 20 mil em uma semana para a compra dos materiais necessários para os grafites; além disso, também se mobilizaram para conseguir a autorização dos moradores do bairro para que as pinturas fossem feitas nos muros das casas.

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/67xwxPkQJMSV2wma6I6Xiy/485da93c32e42a901d02c57592671acd/F_aRU3hWoAA7QQ9.jpeg" alt="grafite arena mrv">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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Foi então que mais de 50 grafiteiros se juntaram e pintaram, de forma simultânea, dezenas de muros no entorno do estádio em um projeto que ficou conhecido __Califórnia Atleticano__, ou __Califórnia, o bairro mais atleticano do mundo__. Imagens de jogadores icônicos do clube, de torcedores ilustres, das taças conquistadas, do escudo, de galos de diferentes tamanhos e formatos, frases de músicas da torcida, do hino e outros elementos que mostram a "atleticanidade" da torcida.

## "O grafite, o grafiteiro, sempre teve isso de marcar território, de falar 'eu estive aqui, eu estou aqui, essa é a minha forma de ver o mundo, esse é o meu pensamento, esse é o meu time', e as torcidas também têm isso de querer marcar o seu lugar. A torcida e o grafite se encontram nessa ideia de marcar território, de mostrar força."

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/1W80bQey7f8fEmx0oUOEVF/04d50cb0df362f291e52a481d5c79e5a/F_aRU3iXYAAd3Nu.jpeg" alt="grafites na arena mrv">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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Para Felipe, esse movimento artístico de deixar o espaço com a cara alvinegra se tornou ainda maior por ter conseguido unir a torcida que, segundo ele, passa por "divisões relacionadas a pensamentos políticos, sobre a SAF e outros assuntos do clube". Além das doações para a compra dos materiais, torcedores de todas as idades foram ajudar quem estava grafitando, levando água para que se hidratassem e até pintando partes de alguns desenhos.

## "A torcida do Atlético passa por divisões em pensamentos políticos, em pensamentos de saf, então essa também é uma forma de unir os torcedores em um só sentimento, em um só movimento."

Por outro lado, ele revela um temor com a possibilidade de que os torcedores do Cruzeiro, pela rivalidade, estraguem os grafites. Pensando nisso, Felipe disse que antes de começar eles tiveram a preocupação de pensar e fazer os trabalhos com imagens e mensagens que exaltassem o Atlético e a sua história, sem nenhum tipo de ataque ao rival.

## "Eles têm vários grafites no Barro Preto, onde fica o clube social deles, e são grafites que falam da história deles, não grafites que nos criticam, e a gente nunca estragou, então a nossa expectativa é de que eles também não estraguem os nossos. Existe um código de ética entre a galera do grafite, existe um respeito, e a gente espera que esse respeito seja cumprido."

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/34zQyg7dpXfBxZmBv3rQuI/30dee3dcc20a832efdb2cf1dd3eae74d/F_Tho-GXwAAq6wU.jpeg" alt="galo grafite">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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O movimento foi reconhecido pelo próprio Atlético, que fez publicações destacando os grafites e a ideia de tornar o bairro ainda mais atleticano através da arte urbana. Felipe ainda disse que a ideia é que o __Califórnia Alvinegro__ continue espalhando as cores e a paixão dos torcedores nas redondezas pelos próximos tempos, ajudando a fortalecer a sensação de pertencimento e familiaridade que um lar pode proporcionar.

Dá uma olhada em alguns grafites feitos no bairro: 

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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/62cbz0d3BRcJk5A5SMEO2m/8a6807ffef1e177c4ad25c9c39e642c0/F_PedmzW8AAcjXf.jpeg" alt="galo grafite 1">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/7oQIF34yJq7KOVHk9zA01p/3d508571c4b22cc45c0c1474ec9343a9/F_fyuWYW0AAu6ou.jpeg" alt="galo grafite 2">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/32XF22XJVao5u0C3RSswOS/8802ded891d4e9bf961da3bb56186fdb/F_Tho-GXkAAzd5A.jpeg" alt="galo grafite 3">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/KscO1c9jBpk2gIi8A6yPc/22cd01270b64536772e5c224719db3bd/F_PqJQtWIAADMAi.jpeg" alt="galo grafite 4">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/1fFBro8H8LyYAveCGRr4GZ/0d962fbfbd5282c629780493db51e2d3/F_UuAjcWMAAsbqE.jpeg" alt="galo grafite 6">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/5Jo5UbryJRRKfb69sD9yh9/419d08f6a27da652c59c50afbf857305/F_ZV8HLX0AA0Ta8.jpeg" alt="galo grafite 7">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/6KYEsqDRWLnNByjAmP9Ait/d2945b1f85630678d6b68a944fca68d8/F_Vx-0iWQAAV74R.jpeg" alt="galo grafite 8">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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  <img src="//images.ctfassets.net/lgt1coqdvs74/30C9V7Z7JYW5CKcLatoM4h/ae496e2f2f5652bcbeb02b6ff1a73976/F-6SArRXEAAbTyX.jpeg" alt="galo grafite 9">
  <figcaption>Foto: Felipe Arco/Twitter</figcaption>
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galo grafiteiro

O senso de pertencimento é uma das coisas mais importantes do futebol, e a torcida do Atlético está usando uma arte urbana histórica para fortalecer esse sentimento.

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